A TEMPORADA
Vôlei Bauru na balança
Apresentamos uma análise da temporada da equipe bauruense, tanto do desempenho coletivo como individual
Por Fabio Toledo e Lucas Guanaes
Agora que a poeira abaixou após a eliminação do Vôlei Bauru nos Playoffs da Superliga, é o momento de se fazer um balanço da temporada. De início, as expectativas eram maiores com relação ao ano anterior, mas aos poucos se foi notando qual era o devido lugar do time da Sem Limites na hierarquia nacional.
O começo das preparações foi bom. A manutenção da comissão técnica, encabeçada por Marcos Kwiek, a chegada da campeã olímpica Paula Pequeno. Ainda que uma das melhores líberos do mundo, Brenda Castillo, não tivesse acertado sua permanência, a chegada de outra de alto nível, Shara Venegas, visou compensar. Já Yoana Palacio, que era sonho antigo da equipe bauruense, foi garantida no elenco, primeiro para o Paulista, depois para a Superliga.
Além do trio de reforços de peso, Bauru trouxe a central Andressa Picussa, formando um trio interessante na rede com as remanescentes Angélica e Valquiria. A oposta Helô foi outro bom nome entre as aquisições, que também contou com a levantadora Ju Carrijo e as jovens Gabi Cândido, Ariane e Gabi Martins. Por outro lado, aquela que poderia ser a grande contratação da temporada não aconteceu, pois a dominicana Brayelin Martínez optou por atuar no voleibol italiano.
Subiu a bola
Mesmo sem a chegada de Martínez e sem patrocínio máster, havia grande expectativa para o desempenho do time comandado pelos irmãos Kwiek, mesmo após a derrota na estreia do Paulista, para o SESI-SP. Porém, no dia seguinte ao revés, Marcos Kwiek e seu irmão, Fabiano (que vinha comandando a equipe na ausência do treinador, enquanto este cumpria compromissos com a seleção dominicana), anunciaram o desligamento do time.
Não é possível calcular o tamanho do baque dessa notícia para o decorrer da temporada do Vôlei Bauru. Isso porque foi buscada uma solução caseira em Fernando Bonatto, então auxiliar, recebendo a oportunidade de comandar o time. Com ele, a equipe mostrou consistência para bater o Pinheiros no primeiro compromisso em casa e fez jogo duro contra o Vôlei Nestlé em Osasco. Inclusive, muitos foram os jogos duros na temporada bauruense, sendo que em alguns nem deveria ter sido assim.
A principal prova disso foram os confrontos contra o São Cristóvão/São Caetano. No Paulista, vitória do Sanca, que também bateram as bauruenses na Superliga, tanto no ABC como em Bauru. Mas o que chamou mesmo a atenção no desempenho da equipe ao longo da temporada foi a dificuldade em lidar com a pressão. Bastava o time construir um resultado positivo que a tendência dele sucumbir era grande.
Quer exemplo maior de pressão do que o tie-break? É o tudo ou nada no voleibol (apesar do perdedor levar um ponto quando é fase de classificação), quem o ganhar, vence a partida. Ao todo, o Vôlei Bauru disputou 11 tie-breaks, o segundo maior número de uma equipe em 2017-18 (atrás do Vôlei Nestlé), mas não venceu nenhum.
Apesar de ser aguerrido contra os grandes – como foi nos dois turnos da Superliga diante do Osasco e do Dentil/Praia Clube no returno –, era no duelo contra adversários de nível igual ou inferior que o time pecava. Em alguns casos, começava mal, depois se recuperava (como foi diante do BRB/Brasília). Em outros, dava pinta de que venceria e o resultado acabava sendo outro (frente ao Hinode/Barueri foi assim).
Ainda assim, o desempenho nos playoffs não foi tão desagradável. Devido ao chaveamento, Bauru foi onde podia ir no Paulista – perdendo na semifinal para o Vôlei Nestlé, após derrotar o SESI-SP nas quartas – e na Superliga – teria mais chances se garantisse uma posição melhor, mas enfrentou o Praia Clube e não teve jeito. Portanto, pode-se afirmar que a temporada do Vôlei Bauru foi aceitável, embora tivesse condições de encaixar uma classificação melhor na Superliga.
O efeito Tifanny
Por mais que a chegada de Paula Pequeno tivesse sido a grande contratação do Vôlei Bauru no início da temporada, foi a chegada da ponteira Tifanny que abalou as estruturas, não só da equipe como do voleibol nacional. A atleta estava em Bauru se recuperando de uma cirurgia na mão esquerda e confirmou sua participação na Superliga já no final do primeiro turno. Em 14 jogos que fez com a equipe bauruense, tornou-se destaque por altas pontuações e pela explosão física que apresentou em seus ataques.
O ápice do desempenho de Tifanny foi na derrota para o Praia Clube, quando ela anotou 39 pontos e quebrou o recorde de pontuação em um mesmo jogo da história da Superliga. A participação da atleta, primeira trans na elite do vôlei nacional, foi alvo de polêmica que chamou atenção até mesmo de quem nunca ligou para o cenário do voleibol fora dos Jogos Olímpicos. Entre embasamentos científicos, questões de inclusão e aceitação do indivíduo trans na sociedade e o mau e velho preconceito, o debate foi intenso, mas Tifanny se manteve centrada, apoiada pela torcida bauruense e por outros fãs pelo Brasil.
Dentro de quadra, o desempenho da camisa 10 bauruense foi o “médico e o monstro” da equipe. Embora a ponteira fosse capaz de desafogar o time em algumas situações de jogo, aos poucos surgiu uma grande dependência de seus ataques e a atleta ficou mais marcada pelas redes adversárias. A insistência em passes para Tifanny também emperrou um bom andamento do ataque. No entanto, não há dúvidas de que Tifanny fez diferença para Bauru na temporada.
O efeito SESI
Pouco mais de uma semana antes da estreia de Tifanny, outro acontecimento marcante para a temporada – e sequência do projeto – do Vôlei Bauru aconteceu. Não foi nas quadras, mas no auditório da OAB Bauru, onde foi anunciado que o SESI juntaria forças com a equipe bauruense. No início deste ano, as categorias de base da equipe do SESI, anteriormente alocadas em Santo André, mudaram-se para a Cidade Sem Limites. Já a partir de maio, a união entre o serviço da FIESP e a organização esportiva será consumado, fazendo surgir o SESI/Vôlei Bauru.
Na prática, trata-se da fusão entre o SESI-SP, que terminou na lanterna da Superliga, com o Bauru. A diferença está no investimento, que seria de R$5 milhões, somando categoria de base e equipe principal. Além disso, uma nova arena está nos planos para ser construída no SESI do Horto Florestal. Portanto, a próxima temporada pode ser marcada pelo tão sonhado salto de qualidade do Vôlei Bauru.
Sai ou fica?
Muito por conta dessa expectativa de investimento para o SESI/Vôlei Bauru, o elenco atual do escrete da Sem Limites precisa ser avaliado. Algumas atletas possuem qualidade para ficar, outras nem tanto, e assim apresentamos nossa análise individual do desempenho das jogadoras do Bauru.
Helô | Oposta
A atleta que foi destaque no Rio do Sul chegou em Bauru após não ter espaço no Rexona/SESC. Na Cidade Sem Limites, fez boas apresentações no início da temporada, mas perdeu espaço com a entrada de Paula Pequeno, Palácio e Tifanny. Assim, passou boa parte da Superliga no banco. É uma atleta que merece mais oportunidades e se não ver possibilidade de que terá espaço na próxima temporada, deve sair para o bem de sua carreira.
Shara Venegas | Líbero
O desafio da jogadora da seleção de Porto Rico não era fácil: substituir Brenda Castillo logo em sua primeira passagem em um time fora de seu país. Apesar disso, a líbero não comprometeu o desempenho bauruense e conquistou os fãs com sua simpatia. O problema para sua permanência reside no fato de o SESI, em todas as modalidades que apoia, dar preferência a atletas brasileiros para a montagem de seus elencos. Assim, a possibilidade de Bauru perder um grande talento é enorme.
Ariane | Oposta/Ponteira
O Bauru – e agora o SESI – precisa tratar com muito carinho essa atleta de grande potencial. Aos 21 anos, Ariane tem mão pesada e potência para atuar como ponteira ou oposta, da mesma forma que tem altura e porte físico para fazer as vezes de central. Uma joia para ser lapidada e para receber mais tempo de quadra na próxima temporada. Se Bauru não permitir esse desenvolvimento, a melhor alternativa para Ariane seria buscar outro time.
Paula Pequeno | Ponteira
Principal aquisição no início da temporada, PP4 mostrou o lado positivo de ser veterana decidindo algumas partidas do Campeonato Paulista. Porém, a parte negativa de seus 36 anos – e mais de 20 dedicados ao voleibol – também se fez presente, com uma lesão complicada no ombro (um edema ósseo). Parte da temporada foi prejudicada pela contusão e seu rendimento foi abaixo do esperado. O currículo, contudo, ainda atrai holofotes para o Vôlei Bauru. Já iniciou os trabalhos físicos e de prevenção de lesão para a próxima temporada.
Kamilla | Levantadora
Vinda da equipe de Piracicaba após a disputa dos Jogos Regionais, a atleta ajudou a compor o elenco bauruense. Foram poucas as entradas de Kamilla em quadra, ficando mais tempo no banco (até mesmo como líbero) e auxiliando nos treinamentos. Por isso, a permanência da atleta para esse desenvolvimento do projeto do Vôlei Bauru é bem difícil.
Dayse | Ponteira
Uma das atletas mais questionadas do elenco, Dayse tanto fez bons jogos como partidas ruins nas duas temporadas que defendeu o Vôlei Bauru. A dificuldade na recepção foi a grande pedra no sapato dos desempenhos da ponteira. Durante o início da Superliga, a equipe teve inúmeros desfalques e Dayse assumiu o protagonismo em algumas dessas partidas. Com o decorrer do tempo, contudo, não rendeu o necessário e não deve ficar na equipe para a próxima temporada.
Ju Carrijo | Levantadora
Depois de seis anos no Praia Clube, Ju fez uma temporada mediana por Bauru. Foi reserva de Juma na maioria dos jogos, embora tenha ganhado espaço na equipe durante a Superliga. Seu bom saque foi destaque em algumas vitórias, mas ela não conseguiu manter uma regularidade de jogo. Como a promessa do SESI é de montar uma grande equipe para 2018-19, a atleta de 26 anos deve deixar Bauru e procurar espaço em outra equipe.
Juma | Levantadora
Destaque nas seleções de base, a “Joia do Pará” fez sua segunda temporada pelo Vôlei Bauru e novamente mostrou limitações. Apesar do passe muitas vezes quebrado que chegava em suas mãos, Juma deixou a desejar em muitas partidas. Não por menos, perdeu a titularidade no meio da Superliga, embora tenha conseguido recuperar – mais por conta da queda de rendimento de Ju Carrijo do que por méritos. Ainda assim, vale destacar seus bons momentos no saque (líder em aces na fase de classificação) e quando realizava a distribuição de bola no ataque de maneira adequada (algo que poucas vezes aconteceu), além das tradicionais bolas de segunda, especialidade da levantadora. Aos 25 anos, Juma ainda amadurece seu jogo e provavelmente fica para a próxima temporada, mas não como levantadora principal.
Angélica | Central
A General foi elemento importante da equipe na temporada passada e sua permanência para 2017-18 foi comemorada pela torcida. De fato, a central de 28 anos sempre mostrou garra, espírito de equipe e fez boas atuações também nesta temporada. Porém, foi preterida na equipe titular por Andressa e Valquiria após sofrer lesão no tornozelo, em novembro. Ainda assim, foi uma das principais peças para o grupo e até poderia permanecer no time, a fim de manter a identidade do Vôlei Bauru com sua torcida, mesmo com a entrada do SESI.
Tifanny | Ponteira
Tiffany merecia, de fato, uma matéria apenas para falar de sua temporada. Mas simplificando, a ponteira, que já se recuperava de uma cirurgia na mão em Bauru, entrou no plantel já no decorrer da Superliga como o centro das atenções por conta de sua mudança de sexo. Em poucos jogos, seguiu como o maior destaque do time, mas agora por conta de seu desempenho. Teve a maior média de pontos por set da Superliga e ainda bateu o recorde de pontos em uma única partida da competição. Apesar das polêmicas e represálias, conseguiu jogar até os playoffs e, caso ainda possa atuar em solo brasileiro, deve atrais ofertas de inúmeros clubes.
Valquiria | Central
Ela ainda é jovem, de sucesso nas categorias de base da seleção brasileira, mas já é um dos bons nomes do elenco bauruense que deve permanecer após a fusão com o SESI. Val ainda tem muito a desenvolver em seu jogo, principalmente para manter certa regularidade durante a temporada, e isso deve ser possível em Bauru. Ela tem o carinho da torcida e, além de ser um dos talentos com bom potencial na equipe, pode representar uma ligação entre o Vôlei Bauru desta temporada com o futuro.
Andressa | Central
Vinda do São Caetano no início da temporada, Andressa foi a central de maior destaque do Vôlei Bauru. A atleta chegou a ser a principal bloqueadora da Superliga no primeiro turno, embora não tenha sido tão utilizada no ataque como deveria, por conta da má distribuição de bolas das levantadoras. Não há dúvidas de que Andressa teria espaço na rotação do futuro SESI/Vôlei Bauru, independente de quem viesse, pois se trata de uma jogadora de alto nível em âmbito nacional.
Gabi Cândido | Ponteira
Os problemas na recepção tiraram Dayse do time titular bauruense e deram espaço para a jovem Gabi Cândido no decorrer da Superliga. E a ponteira não deixou a desejar. Além de melhorar o passe, apareceu bem em algumas ocasiões quando foi acionada na rede. Sua idade (completa 22 anos em maio) permite maior amadurecimento nas próximas temporadas. Talvez perca espaço entre as titulares no SESI/Vôlei Bauru, mas deve ter participação constante nos jogos.
Arlene | Líbero
Ao fim da última temporada, Arlene anunciou sua aposentadoria. Contudo, logo desistiu da ideia e voltou para mais um ano com a camisa do Vôlei Bauru. Mesmo que não entre tanto em quadra, a atleta de 48 anos segue sendo uma das grandes referências do elenco, atuando, literalmente, na posição que for necessária. Não deu mostras de que a temporada 2017/18 foi sua última como atleta e deve seguir como profissional.
Gabi Martins | Central
Foi um dos jovens talentos a chegar ao Bauru no início da temporada, mas não conseguiu atuar por conta de problemas pessoais ao longo da temporada. Com a entrada de uma filosofia diferente na administração, vai deixar a equipe, embora merecesse uma outra oportunidade, pois seu ano foi extremamente prejudicado.
Palacio | Ponteira
Após toda a novela acerca da chegada (ou não) da cubana, Palacio entrou no time e teve uma crescente no decorrer das primeiras partidas da temporada. Dividiu o protagonismo no ataque com Paula Pequeno, nos primeiros jogos, e com Tiffany, na segunda metade da temporada. É uma das principais atacantes em solo brasileiro, fato comprovado por sua presença no top 3 das maiores pontuadoras da Superliga. Por fim, também possui enorme identificação com a torcida. Assim como Shara, porém, pode ter que deixar o elenco por conta de sua nacionalidade.
Fernando Bonatto | Técnico
Em Bauru desde a época de Chico dos Santos, Bonatto passou um tempo em Cascavel, voltou à Cidade Sem Limites e, com a saída dos irmãos Kwiek, recebeu apoio da diretoria. Já efetivado, Bonatto manteve uma boa relação com o grupo, mas sofreu com reforços chegando no meio da temporada, além de inúmeras lesões. Apesar das quedas do time em momentos decisivos, fez um bom trabalho. Contudo, fortes rumores dão conta da chegada de Anderson Rodrigues para o comando do time, ainda que não anunciado oficialmente. Resta saber se Bonatto voltaria à condição de auxiliar ou se buscaria propostas para continuar como técnico, mas em outra equipe.
Queremos saber sua opinião. Quem merece ficar e quem deve sair do Vôlei Bauru?
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- Fabio Toledo
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