VAGÃO CULTURAL – PARA SEMPRE CHAPE
Cheio de problemas antes de sua estreia, documentário é salvo pela emoção dos entrevistados
Por Lucas Guanaes
29 de novembro de 2016 é uma data que está marcada para sempre na história. Neste dia, numa madrugada de segunda para terça, ocorreu o trágico acidente com o avião que levava a Chapecoense e parte da imprensa catarinense para a Colômbia, na final da Taça Sulamericana disputada com o Atlético Nacional.
Pouco tempo após o acidente, antes mesmo da poeira baixar completamente, teve início a produção de um documentário sobre o clube. Mas a obra só foi estrear na primeira semana de agosto de 2018, muito por conta de uma série de problemas que atrasaram sua exibição.
Na verdade não foi apenas na exibição que o filme teve problemas. A produtora responsável foi contratada pela própria Chapecoense, que pediu uma obra que contasse toda a história do clube passando pelo trágico acidente. Contudo, atritos entre a diretoria da Chape e a produtora, além do desconhecimento da produção por parte de alguns familiares e envolvidos na tragédia, causaram um grande problema.
Assim como mostrado nesta matéria do G1, o trailer foi exibido em alguns cinemas brasileiros sem o conhecimento das partes. Isso incomodou o próprio clube e, também, os familiares dos mortos, que entraram na justiça por meio da Associação Brasileira das Vítimas do Acidente da Chapecoense (Abravic).
Talvez até por isso dê a impressão de que faltaram alguns personagens importantes na obra. Nomes como Apodi ou a Dona Ilaídes, mãe do goleiro Danilo, foram algumas das ausências mais sentidas e poderiam dar uma carga dramática maior para o documentário. Mas se até o nome da obra teve que ser alterado (originalmente seria ‘O milagre de Chapecó’), é possível ter uma ideia de como foi complicado levá-la ao público.
Como se não bastasse, o diretor uruguaio Luis Ara não tinha uma missão das mais fáceis: retratar todo o impacto do acidente e suas repercussões sem apelar para o drama total, pensando também nas famílias dos falecidos.
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Nesse ponto ele acertou. Conseguiu mostrar como a cidade de apenas 160 mil habitantes é apegada ao clube e como o acidente foi sentido pela comunidade. Além dos relatos dos sobreviventes e alguns familiares, também conseguiu o depoimento de torcedores, membros da diretoria, uma funcionária do aeroporto colombiano e também do então presidente do Atlético Nacional, Juan Carlos de la Cuesta.
Porém, falhou na montagem. O documentário é relativamente curto, com apenas 74 minutos de duração. Faz uma breve introdução à história do clube, passa pelo acidente e termina na conquista do Campeonato Catarinense de 2017 e na participação da Chape no Torneio Joan Gamper, em Barcelona.
Algumas cenas e depoimentos parecem não se encaixar muito bem com as cenas anteriores e posteriores. Também, mais para o meio do documentário, uma série de takes que simula as cabines e todo o avião apagando as luzes antes de cair não foi bem colocada. A intenção é interessante, mas o resultado final ficou um pouco confuso e, principalmente, frio.
Esta, inclusive, é uma marca negativa do documentário. Em meio a todos os problemas que passou, ele ficou um pouco frio e pragmático, sustentado apenas pelo acidente em si e a emoção nos depoimentos.
Além disso, é bem nítido que foi uma obra filmada no primeiro semestre de 2017, para ser exibida ainda no meio do ano. Algumas das falas e escolhas narrativas, principalmente no final da obra, deixam claro que se exibido meses antes, conforme originalmente previsto, provavelmente o documentário teria outro impacto. Agora, parece um pouco distante. Muito diferente, por exemplo, do relato dos sobreviventes para o Player’s Tribune, que além de levar às lágrimas, mostra-se atemporal.
No final das contas, o documentário deu a sensação de que poderia ter sido melhor, ter mostrado mais. Ou, ao menos, de um jeito diferente. Não se sabe, porém, todos os problemas enfrentados na produção e lançamento do mesmo, não permitindo indicar esse ou aquele culpado.
Contudo, ainda vale a pena ser visto. Tem uma boa carga emocional em alguns momentos e certamente trata-se de um importante registro histórico, uma vez que é a única obra feita sobre a tragédia até então.
Confira o trailer:
PARA SEMPRE CHAPE
Direção: Luis Ara
Duração: 74 minutos
Produção: Brasil
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