VAGÃO CULTURAL – ONE IN A BILLION
Por Fabio Toledo
Foto: Divulgação/Dallas Mavericks
Na vigésima primeira escolha da segunda rodada do Draft 2015 da NBA, Satnam Singh fazia história como o primeiro indiano a ser escolhido para jogar na principal liga de basquete do planeta. O que pouca gente sabia era de sua trajetória, contada no documentário One in a Billion, uma produção original da Netflix.
Vindo de uma vila agrícola no interior do estado de Punjab, norte da Índia, Satnam foi o primeiro em um país de mais de um bilhão de pessoas a chegar nas portas da NBA, com uma estatura que chamou a atenção, mesmo com ele iniciando tarde sua vida basqueteira. O documentário traça os passos do jovem que, aos 14 anos, media 2,12m. Sem ter muita noção de basquete (no começo, acreditava que o jogo que praticava era vôlei), passou a desenvolver seu jogo e recebeu uma bolsa de estudos para se aprimorar nos Estados Unidos.
Vendo a oportunidade de mercado com um possível sucesso de Satnam, a NBA ajudou o jovem o quanto foi possível. Porém, a evolução do gigante passou por problemas de adaptação (ele nem mesmo falava inglês) e para se ajustar aos critérios do basquete universitário. Sem conseguir as notas acadêmicas suficientes para ingressar em uma universidade, a opção foi a profissionalização aos 19 anos, assim como a legibilidade para o Draft 2015.
Foto: Divulgação/Netflix
Em termos de documentação, registro de uma história, One in a Billion cumpre bem seu dever. Uma vez que mostra detalhes que permeiam a trajetória de Satnam, tanto para seus pontos positivos (sua disciplina para aprender um jogo que ele mal conhecia anos antes, assim como o idioma e a vontade de alcançar tudo aquilo que falaram que ele poderia alcançar), como para alguns negativos (o fato de carregar não apenas suas ambições, mas o peso do pioneirismo em seu país, por exemplo).
O período da adolescência, nos primeiros contatos com o basquete, os improvisos realizados na Índia (como embutir um tênis no outro para dar o tamanho de seu pé), passando pela descoberta de um olheiro da NBA e conquista da bolsa de estudos, tudo é bem retratado. O carinho daqueles que conviviam com Satnam em seu vilarejo apenas pelo fato dele ir estudar nos Estados Unidos também mostra a apreciação coletiva de seus conterrâneos.
Por outro lado, existe em alguns momentos um caráter um tanto comercial dentro do documentário. O interesse da NBA pelo sucesso de Satnam era muito voltado por uma possível abertura do mercado indiano para a liga nacional, fato expressamente relatado no documentário, de fato, mas aparecendo também, de forma velada, nos depoimentos de Adam Silver, comissário da NBA, Mark Cuban, presidente da franquia Dallas Mavericks, entre outros.
Há falas exageradamente positivas em relação a Satnam que apresentam para quem assiste a impressão de que aquele cara teria todos os requisitos para brilhar na NBA, como se fosse fácil entrar em uma das ligas mais exigentes do planeta, mesmo tendo começado a jogar basquete cinco anos antes – e nem ter médias tão boas. Talvez, este excesso de pensamento positivo tenha permeado o próprio Satnam, que posteriormente à história retratada no doc viu que não seria bem assim.
Foto: Divulgação/Netflix
O pós-Draft foi marcado por uma passagem na então D-League, liga de desenvolvimento da NBA, até ele não sair mais do banco de sua equipe. Treinou boxe como passatempo, ainda fez treinamentos com a WWE, empresa de luta livre, até voltar para a Índia e seu vilarejo. Por lá, voltou a jogar basquete e reascendeu a vontade de um dia estar na NBA, mas agora ele tem uma melhor noção de que a trajetória será mais longa. Em setembro de 2018, Satnam acertou seu retorno à América do Norte, onde atualmente defende o St. John’s Edge, da liga canadense de basquete.
Ainda que ocorra essa pequena ilusão com relação a uma carreira meteórica de Satnam Singh na NBA, o documentário apresenta uma história muito legal de ser contada. Casos de pessoas que conseguem algum destaque dentre tantas que sonham o impossível, abrindo caminho para outros surgirem, ainda mais tendo em conta a história de vida de um gigante que morava num vilarejo, nem tinha calçado pra jogar basquete, e este chegar ao Draft da NBA, são sempre especiais e valem a pena de serem vistos.
O filme
ONE IN A BILLION
Produção: EUA
Duração: 69 minutos
Direção: Roman Gackowski
Elenco: Satnam Singh, Mark Cuban, Adam Silver, Vivek Ranadivé, Vlad Divac, entre outros
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