VAGÃO CULTURAL – ÍCARO
Documentário mostra o escândalo do doping russo na perspectiva de um atleta amador
Por Lucas Guanaes
Bryan Fogel durante os testes de aptidão (Foto: Reprodução)
Imagine que você é um ciclista amador e, ao mesmo tempo, um cineasta. Surge então a ideia de produzir um documentário mostrando a facilidade na obtenção e manuseio de substâncias proibidas para atletas, o chamado doping, bem como a facilidade de escapar dos exames que poderiam comprovar a fraude. Já seria uma película, no mínimo, interessante, não?
Pois bem. E se no meio da produção você se visse envolvido no maior escândalo de doping da história do esporte, envolvendo toda uma nação potência olímpica e uma das principais pessoas por tudo isso? É exatamente o que acontece em Ícaro, documentário que começou a ser exibido pela Netflix em agosto.
Assim é a história de Bryan Fogel, que resolveu documentar sua busca por uma melhor performance no ciclismo amador. Para isso, ele conta com a ajuda do Dr. Grigory Rodchenkov, cientista russo, diretor de um dos maiores laboratórios antidoping da Rússia. Sim, é isso mesmo. O diretor do laboratório antidoping auxilia Fogel a se dopar e passar incólume pelos exames.
Em meio a tudo isso, surgem as denúncias que vão até o mais alto escalão do esporte russo acerca do doping em Jogos Olímpicos. E no centro de tudo isto está justamente Rodchenkov. O documentário, obviamente, acompanha a rotina e evolução física de Bryan, além das inúmeras chamadas por Skype e encontros pessoais com o cientista russo.
Dr. Grigory Rodchenkov e Fogel (Foto: Reprodução)
Nas conversas, Grigory esmiúça como a Rússia elaborou o mais bem sucedido esquema de doping do mundo, desde a década de 80, com envolvimento direto dos ex-presidentes e, também, de Vladimir Putin, enganando o Comitê Olímpico por meio da urina dos atletas.
No decorrer do documentário, que tem início em 2014, as investigações vão chegando a patamares cada vez mais complexos. De início, Rodchenkov ainda faz pouco caso das denúncias, mas com o passar do tempo tanto ele quanto Fogel começam a ter noção do desfecho das investigações e do poder que tinham em mãos.
De mortes suspeitas à fuga do país, passando por severas denúncias e entrevistas à veículos americanos, o documentário mostra a relação entre Fogel e Rodchenkov, além do rumo cada vez mais inesperado das investigações.
O documentário foi vencedor do Prêmio Orwell do Festival Sundance. Acerca de George Orwell, inclusive, vale a curiosidade. Em inúmeros momentos do filme frases dos livros do escritor foram utilizadas como metáforas ou explicações sobre as situações que ambos passavam. O atletismo russo foi suspenso dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. Os poucos atletas do país que comprovaram não ter relação com o esquema de doping, puderam competir, mas sem bandeira.
Em resumo: imperdível para qualquer um que tenha um tempo sobrando na Netflix, mesmo que não seja fã de esportes.
O documentário está disponível na Netflix. Confira o trailer:
“Ícaro” concorre ao Oscar 2018 de Melhor Documentário em Longa Metragem ao lado de “Últimos homens em Aleppo”, “Olhares, lugares”, “Abacus, pequeno o bastante para condenar” e “Strong Island”.
Atualização: Ícaro venceu o Oscar 2018
A OBRA
Ícarus
Diretor: Brian Fogel
Produção: EUA
Duração: 121 minutos
Ano: 2017
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