VAGÃO CULTURAL – HOOP DREAMS
Por Fabio Toledo
Ano de 1986. Enquanto Isiah Thomas, Julius Erving, Larry Bird, Moses Malone, Dominique Wilkins, Patrick Ewing, Magic Johnson, Kareen Abdul-Jabbar, Hakeen Olajuwon, Michael Jordan, entre outros brilhavam na mais fantástica geração da NBA até aquele momento, muitos garotos buscavam seguir os passos de seus heróis, sempre sonhando em um dia chegar a tudo o que eles haviam conquistado.
Dois desses garotos, William Gates e Arthur Agee, têm sua história retratada no documentário Hoop Dreams. Além de mostrar, em narrativas paralelas, a trajetória desses jovens durante o high school (o colegial norte-americano), a película vai mais além: descortina as dificuldades dos negros nos Estados Unidos. Para garotos como Gates e Agee, o sonho de se destacar no colegial, conseguir uma bolsa em uma faculdade de primeiro nível através do esporte, para mudar sua vida, culminando em chegar à NBA, onde jogam seus ídolos, possui inúmeros desafios.
Para se ter ideia, o menor problema desses garotos é o ambiente social distinto vivido por eles na St. Joseph High School, a mesma escola na qual Isiah Thomas, de infância semelhante à deles, destacou-se antes de alcançar o sucesso. Predominantemente composta por brancos, William e Arthur precisavam sair de casa 90 minutos antes para chegarem à tempo nas aulas. Além disso, a vida no subúrbio de Chicago criava empecilhos. Tráfico de drogas, assaltos, homicídios, falta de emprego, dificuldades familiares, tudo isso também interferia na vida dos retratados (e de muitos outros de origem semelhante).
Gates e Agee não se tornaram grandes estrelas da NBA (ficaram bem longe disso), representando a maioria absoluta dos garotos que possuem qualidade no esporte, mas que não conseguem se desenvolver o tanto necessário na concorrência com milhares de outros jovens, devido aos mais variados aspectos. Este é o elemento mais brilhante do documentário: não importa tanto retratar os momentos na quadra dos garotos, mas os extra quadra, pois são neles que o destino de ambos são estabelecidos.
Hoop Dreams utiliza o basquete como pano de fundo, a fim de tratar de assuntos mais complexos, como as divisões sociais, econômicas, educacionais e raciais nos Estados Unidos contemporâneo, pois apesar de ter sido lançado a 20 anos, a situação dos negros nos subúrbios norte-americanos segue igual.
Elogiado pela crítica, considerado por Roger Ebert, um dos mais famosos críticos de cinema da história, o melhor filme da década de 90, e inserido pelo The New York Times na lista dos 1000 melhores filmes de todos os tempos, o documentário foi simplesmente ignorado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas no Oscar de 1995, situação até hoje mal explicada.
Já você, leitor, amante da sétima arte ou do basquete, não pode ignorar esta grande obra, que te fará sorrir pelas conquistas e chorar pelos reveses da vida de William Gates e Arthur Agee. Mais que isso, saberá como é a realidade de garotos que buscam seguir os passos de seu ídolo e que é preciso bem mais do que a qualidade em quadra para ser um bom material para a NBA.
O Filme
HOOP DREAMS
Título no Brasil: “Basquete Blues”
Direção: Steve James
Distribuição: Fine Line Pictures/Kartemquin Films
Duração: 171 minutos
Ano de lançamento: 1994
Curiosidade – Os produtores do filme, Steve James (também diretor), Peter Gilbert e Frederick Marx, inicialmente fariam um curta de 30 minutos para a PBS (Seviço Público de Radiodifusão) nas quadras de basquete de rua de Chicago, como uma forma de representar a cultura urbana da cidade. Aconteceu que foram cerca de 300 horas de filmagem e três anos de edição até o lançamento do filme, de 2 horas e 51 minutos.
Confira o trailer do filme:
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