VAGÃO CULTURAL – ESPORTE NO OSCAR
O prêmio máximo do cinema já contou com muitas histórias tendo o esporte como pano de fundo
Por Fabio Toledo
A disputa pelo Oscar lembra muito um campeonato, uma competição entre equipes, ou no caso o elenco dos filmes. Com bons jogadores, pode-se fazer um grande time, mas dependendo do técnico pode virar um desperdício, assim como uma película repleta de estrelas pode ser o maior fracasso da década.
Além das semelhanças entre as competições esportivas e o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a “Copa do Mundo” dos prêmios para os filmes, que terá a realização de sua 88ª edição neste domingo, 28, também já teve algumas ligações diretas com o esporte, com películas contando histórias, fictícias ou não, sendo agraciadas pelo Oscar. Neste Vagão Cultural, traremos os filmes que conquistaram o ouro máximo da cinematografia mundial.
Menina de Ouro (2004)
A história baseada no livro Rope Burns: Stories from the Corner, de F.X. Toole (pseudônimo do treinador de boxe Jerry Boyd), dirigida e estrelada por Clint Eastwood, com Hillary Swank e Morgan Freeman, desafia o machismo no esporte e trata das dificuldades nas relações familiares, bem como deixa a mensagem de que, às vezes, o talento precisa se aliar à insistência e o trabalho duro para conseguir o que se quer. Tudo isso, através do romantismo do boxe. O filme conquistou 4 Óscares: melhor filme, melhor atriz (para Hillary Swank), melhor ator coadjuvante (para Morgan Freeman) e melhor direção (para Eastwood).
Falamos mais sobre Menina de Ouro no texto que você confere clicando aqui.
Carruagens de Fogo (1981)
Um clássico do cinema, cuja música-tema se tornou hino para todas as maratonas no mundo, conta a história da preparação de dois atletas britânicos, um missionário escocês e um filho de judeu, para a disputa do atletismo nos Jogos Olímpicos de 1924, envolvendo elementos da sociedade que interferem bastante na vida esportiva das personagens. A película levou os Óscares de melhor filme, melhor roteiro original, melhor figurino e, claro, melhor trilha sonora.
Rocky (1976)
O drama que transformou Sylvester Stallone em uma estrela marcou o prêmio da Academia em 1977. O garoto da Filadélfia, que divide uma carreira comum no boxe com seu trabalho de capanga de um agiota, sofre uma grande mudança em sua vida quando recebe a oportunidade de enfrentar o campeão peso pesado Apollo Creed por seu cinturão. Não precisa falar mais nada, pois qualquer fã de esporte e de filmes já deve ter assistido este clássico do cinema, vencedor do prêmio de melhor filme, melhor direção (para John G. Avildsen) e melhor edição.
Marcado pela sarjeta (1956)
Há quem diga que o filme que fez sucesso com Sly se baseou neste, que retrata a vida do lendário Rocky Graziano, um dos maiores pesos-médio da história do pugilismo. Vindo de uma família descendente de italianos, Rocky (Paul Newman) é filho de um ex-boxeador frustrado e bastante revoltado com sua situação familiar e social. Após vários anos na prisão, escapou do alistamento e militar e voltou à cadeia por isso, encontra no boxe uma saída para canalizar suas emoções e, desenvolvendo seu talento, recebe a oportunidade de lutar pelo cinturão dos pesos-médio.
O filme levou o prêmio de melhor fotografia em preto e branco e o de melhor direção artística. Foi a primeira película com Paul Newman sendo protagonista (abaixo, outro filme estrelado por Newman), além de ser o debute de Steve McQueen nos cinemas.
The Hustler (1961)
Vencedor nas categorias de melhor direção de arte em preto e branco e melhor fotografia em preto e branco, o filme intitulado no Brasil como “Desafio à Corrupção” trata de um jogador de sinuca, Eddie Felson (Paul Newman), que falha no desafio de vencer o lendário jogador “Minnesota Fats” (Jackie Gleason) após uma longa disputa, perdendo quase todo seu dinheiro.
Visando recuperar a confiança em seu jogo, junta-se a um apostador, Bert Gordon (George C. Scott), e vai em busca de revanche. É interessante que um famoso esportista fez uma ponta no filme, como bartender. Foi Jake “The Raging Bull” LaMotta, o qual teve sua história contada no cinema, em mais uma película premiada pela Academia.
A Cor do Dinheiro (1986)
Dirigida por Martin Scorsese, a continuação de The Hustler também terminou premiada pela Academia. Finalmente, a estatueta foi para o ator Paul Newman, em seu terceiro filme estrelado por ele na lista. Agora, Eddie Felson encontra um jovem e carismático jogador de sinuca, Vincent Lauria (Tom Cruise), e decide ensinar todos os seus truques a ele. Juntamente com a namorada de Vincent, Carmen (Mary Elizabeth Mastrantonio), eles vão a vários salões de bilhar, com Eddie passando seus ensinamentos, algumas vezes de forma indireta, tanto nas vitórias, como nas derrotas.
Touro Indomável (1980)
Apesar de ser superado pelo filme dirigido pelo estreante na função, Robert Redford, na principal categoria, a cinebiografia em preto e branco do boxeador Jake LaMotta (baseado na obra literária do próprio, intitulada Raging Bull: My Story), deu a Robert De Niro seu segundo prêmio na Academia, o de melhor ator, em sua quarta película com o diretor Martin Scorsese. A história de LaMotta, um touro indomável dentro e fora dos ringues, também levou o Oscar de melhor edição.
The Fighter (2010)
Mais uma vez com o boxe como pano de fundo, o filme conta a história real dos meio-irmãos Micky Ward e Dicky Eklund, protagonizados por Mark Wahlberg e Christian Bale, respectivamente. Micky é um boxeador de família de classe operária, agenciado por sua mãe, Alice (interpretada por Melissa Leo), e treinado por seu irmão, Dick, ex-pugilista que se tornou dependente de crack e passa a ser filmado para um documentário da HBO, o qual ele acredita ser sobre seu “grande retorno”.
A película aborda as dificuldades nas relações familiares, as quais batem de frente com a preparação do atleta, desviando o foco das atenções. Pela excelente atuação, Christian Bale, assim como Melissa Leo, venceram os prêmios de melhor ator coadjuvante e melhor atriz coadjuvante da Academia.
National Velvet (1944)
Para mostrar que esporte e cinema é uma relação que dura há tempos, o filme da década de 40 conta a história de Velvet Brown (Elizabeth Taylor), que ganha um cavalo em uma rifa e começa a treiná-lo, juntamente com seu amigo, o órfão Mi Taylor (Mickey Rooney), visando a disputa da principal corrida de cavalos da Inglaterra. Querendo ver o melhor de seu cavalo, Velvet decide guiá-lo na competição. Como uma mulher não poderia ser jóquei, ela corta seu cabelo e compete “clandestinamente”. Apesar da interessante história, o filme levou apenas uma estatueta, de melhor atriz coadjuvante, para Anne Revere, que fez o papel da mãe de Velvet, Araminty Brown.
O Campeão (1931)
Um dos primeiros filmes a retratar o esporte no cinema conta a história da relação entre Andy “Champ” Purcell (Wallace Beery) e seu filho de oito anos, Dink (Jackie Cooper). Andy é um decadente ex-campeão mundial de boxe, que não recebe oportunidades para se reerguer devido ao alcoolismo, enquanto seu filho é o único a acreditar em seu ressurgimento, apesar dos deslizes de seu pai. A atuação de Wallace Beery o rendeu a estatueta de melhor ator, enquanto o filme também recebeu o Óscar de melhor roteiro original.
The Pride of the Yankees (1942)
Outro esporte bastante retratado nos cinemas é o beisebol, embora poucos filmes relacionados a esse esporte sejam até mesmo indicados a prêmios da Academia. A película estrelada por Gary Cooper retrata a história de Lou Gehrig, lendário jogador do New York Yankees, conhecido por sua potente rebatida com o taco, que precisou abandonar precocemente sua carreira por ter sido diagnosticado com uma esclerose lateral amiotrófica, vindo a falecer dois anos após sua aposentadoria, aos 37 anos. O filme, que conta com a participação de outra lenda do beisebol, Babe Ruth, interpretando a si mesmo, venceu na categoria de melhor edição.
O Céu Pode Esperar (1978)
A comédia vencedora da categoria de melhor direção de arte conta a história de um jogador de futebol americano, Joe Pendleton (Warren Beatty), que comandava sua equipe a caminho do Super Bowl, quando sofre um acidente e seu anjo da guarda, muito ansioso, retira a alma do seu corpo antes do previsto. Após o julgamento do “erro celestial”, é decidido que seja dada uma segunda vida a Joe, mas em outro corpo, pois o seu já havia sido cremado.
Jerry Maguire (1996)
A comédia-dramática que conta a história de um brilhante agente esportivo que dá nome ao filme (interpretado por Tom Cruise), o qual faz uma declaração por escrito sobre a desonestidade presente no ramo da gestão esportiva, desagradando a agência para a qual trabalha e sendo demitido. Assim, Jerry decide criar sua própria agência, contando como único agenciado o atleta do Arizona Cardinals Rod Tidwell (Cuba Gooding Jr.), um indivíduo bastante desconfiado e exigente. A atuação de Gooding Jr rendeu a ele a estatueta demelhor ator coadjuvante.
Correndo pela Vitória (1979)
Filme inspirador sobre um jovem que termina o ensino médio e, juntamente com seus amigos, não sabe o que fazer da vida, tem o sonho de ser atleta do ciclismo. Quando tem a oportunidade de competir juntamente com atletas que o inspirava, é mal tratado por eles. Ele ganha a oportunidade de mostrar seu valor através da criação de uma equipe de ciclismo com seus amigos para a corrida anual “Little 500”. Recebeu o Óscar de melhor roteiro original.
Um Sonho Possível (2009)
A adaptação do livro The Blind Side: Evolution of a Game, de Michael Lewis, conta a história do Offensive Tackle da NFL, Michael Oher. De infância traumática, Big Mike (Quinton Aaron) é acolhido pela família de Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock) e passa a viver em problemas, comuns para o negro na sociedade, ampliados pela vida em uma família branca, que o trata como membro, embora os estigmas preconceituosos da sociedade caiam sobre ela. A atuação de Sandra Bullock deu a ela sua até então única estatueta do Óscar, como melhor atriz.
Hoop Dreams e a polêmica com a Academia
Recentemente, alguns nomes de peso do cinema anunciaram o boicote da edição de 2016 do Academy Awards, entre eles Will e Jada Smith, além do diretor Spike Lee, devido à falta de negros indicados nas categorias. Essa luta para tornar a premiação menos branca existe há tempos. Mera injustiça a alguns possíveis candidatos? Ou realmente uma segregação racial? Fato é que um filme sobre a realidade de garotos negros, bastante elogiado pela crítica, foi passado despercebido pela Academia, isso em 1995.
Hoop Dreams, documentário que retrata a adolescência de dois garotos negros do subúrbio de Chicago que sonham em ser grandes jogadores de basquete (já teve texto sobre ele por aqui), foi considerado por Roger Ebert, um dos mais famosos críticos de cinema da história, o melhor filme da década de 90, e inserido pelo The New York Times na lista dos 1000 melhores filmes de todos os tempos.
Na edição de número 67 do Oscar, a concorrência era grande. Forrest Gump, Pulp Fiction, Tiros na Broadway, O Rei Leão e Um Sonho de Liberdade eram os nomes mais populares na disputa pelas estatuetas. Contudo, a presença de Hoop Dreams em apenas uma das categorias (na de melhor edição, a qual foi vencida por Forrest Gump), fora até mesmo da categoria de melhor documentário, levaram os críticos a questionarem o fato. Foi um mero esquecimento da Academia ou haveria um sistema que evitasse filmes com tamanho cunho social de fazerem sucesso na principal premiação do cinema mundial?
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