VAGÃO CULTURAL – AMADOR
Por Fabio Toledo
A realidade dos milhares de jovens de muitos guetos norte-americanos que sonham em ser estrelas da NBA foi retratado no aclamado Hoop Dreams, de 1994. Porém, tal cenário é capaz de servir de fonte para muitas outras obras do cinema, da televisão, da literatura. Foi por lá que o diretor Ryan Koo desenvolveu a história do filme “Amador“, distribuído mundialmente pela Netflix.
A obra nos apresenta Terron Forte (Michael Rainey Jr.), um garoto do oitavo ano escolar que viraliza na internet com vídeos de suas grandes jogadas nas quadras de basquete. Tamanha é sua qualidade que ele começa a jogar no high school (o colegial dos Estados Unidos) antes mesmo de frequentá-lo. Dificuldades existem para o jovem, como seu problema em discernir números, mas sua perspicácia o permite se adaptar. Dessa forma, Forte entra no radar das universidades.
Fora das quadras, o garoto precisa lidar com as necessidades financeiras de sua família. O pai de Terron, Vince (Brian White), só encontra empregos provisórios e ainda precisa lidar com dores de cabeça e um problema de memória causado por uma lesão na cabeça sofrida enquanto era jogador de futebol americano. Nia (Sharon Leal), mãe de Terron, é professora e precisa tomar conta tanto de seu filho como de se marido. No entanto, com a ajuda do treinador Gaines (Josh Charles), uma esperança surge para o futuro de toda a família, até que uma grande surpresa arruina tudo, e Terron encontra uma saída interessante para dar a volta por cima.
Em linhas gerais, “Amador” é um bom filme. Para os fãs de basquete, tem algumas cenas legais dentro de quadra e aborda assuntos que muitas vezes passam batido na formação do atleta. O principal fato é o de que, até o final da vida universitária, o jogador é visto esportivamente como amador, não podendo ganhar dinheiro com o esporte, pois então não poderia mais jogar no nível amador. Isso muita vezes afasta jovens de grande potencial, pois esses necessitam ajudar a família por essas passarem por dificuldades financeiras.
Dentro dessa categoria, está o pagamento de dinheiro no recrutamento de atletas para as universidades. Na vida real, muitos escândalos surgiram por conta disso. Em abril de 2018, por exemplo, o FBI recebeu uma denúncia de corrupção dentro do basquete universitário de atletas vinculados à Universidade do Estado da Carolina do Norte e à Universidade do Kansas. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos investiga atualmente possíveis quebras de regras do amadorismo definido para competidores da NCAA.
Contém spoilers
Para uma análise mais completa do filme, serão necessários alguns spoilers. Então, se você não quer quebrar o encanto da sétima arte, não leia os parágrafos a seguir.
“Amador” possui um desenvolvimento legal de sua história. Logo de cara, no high school, mostrou que era diferenciado, sempre utilizando as redes sociais para se promover, de modo informal. E foi a própria interatividade do garoto que causou a reviravolta, ao transmitir ao vivo a conversa de seu treinador com seu pai, na qual era revelado que houve pagamento de dinheiro para o recrutamento. Com essa prova cabal, Terron não pôde mais atuar no basquete amador e sua decisão, de se profissionalizar fora do país, é algo poucas vezes vista num filme.
Qualquer basqueteiro sabe que, apesar de a NBA ser o nível máximo do basquete profissional em termos globais, o cenário fora dos Estados Unidos também é interessante. O próprio Gaines, treinador de Terron, seguiu por esse caminho, e muito pelo relato dele o garoto elaborou seu plano. Tudo foi bem desenvolvido na ideia de Terron em se tornar profissional fora do país, quem sabe chegando à NBA posteriormente. Mas tinha que terminar com um momento clichê, desnecessário? A cena final, do garoto fazendo sua última partida como amador, proibido de jogar e levando a peleja para uma quadra aberta do bairro foi o ponto fraco do filme. Às vezes, no audiovisual, a última impressão é a que fica, mas podemos nos esforçar para garantir que isso não aconteça neste caso, pois a obra é interessante e vale a pena assistir.
A obra é mais uma das inúmeras produções da Netflix dos últimos anos. Uma boa audiência e recepção dos usuários certamente levará a plataforma a produzir sequências desta historia. O final, inclusive, deixa uma grande brecha para uma continuação. O nome do filme também ajuda. Afinal, os fãs de basquete já podem imaginar os títulos das sequências, todas relacionadas ao estágio de Terron: amador, profissional, NBA, all-star, etc. Mas se isso vai acontecer, só o tempo dirá.
O filme
AMADOR
Produção: EUA
Duração: 96 minutos
Direção: Ryan Koo
Elenco: Michael Rainey Jr., Sharon Leal, Brian White, Josh Charles e Ashlee Brian
Trailer
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