O GRUPO DO DRAGÃO
No segundo grupo das semifinais da Liga das Américas, a promessa é de muito equilíbrio
Por Lucas Guanaes
O equilíbrio no basquete latino-americano aumentou nas últimas temporadas. No início das disputas da Liga das Américas, por volta de 2008, o domínio era argentino. Agora, a situação se inverteu. Afinal, a partir de 2012/13, os brasileiros foram soberanos nas competições continentais. Em seguida, veio o Guaros de Lara, da Venezuela, com todo seu poderio financeiro para papar todos os títulos possíveis. Hoje, no entanto, a situação está mais equilibrada do que nunca na América Latina.
Brasileiros e argentinos estão em nível semelhante, podendo até bater de frente contra o campeão venezuelano. Por essas e outras que a atual edição da Liga das Américas é uma das mais disputadas. Principalmente nas fases semifinais. Do grupo E, composto por Mogi, San Lorenzo (ARG), Ferro (ARG) e Fuerza Regia (MEX), saíram San Lorenzo e Mogi das Cruzes para o Final Four na primeira e segunda posição, respectivamente.
Agora é hora do grupo F. Sediado em Corrientes, na Argentina, a c terá os donos da casa, Regatas Corrientes, Estudiantes de Concordia (ARG), Guaros de Lara (VEN) e o Sendi/Bauru Basket. O regulamento já é conhecido: os dois primeiros avançam ao Final Four. A diferença para a primeira fase, porém, é que desta vez a classificação importa muito. Afinal, quem ficar em primeiro encara o segundo colocado do grupo E (no caso, o Mogi) e quem ficar em segundo pega o San Lorenzo logo de cara no Final Four.
A cidade de Corrientes na Argentina possui cerca de 315 mil habitantes (um pouco menor que Bauru) e está bem próxima da fronteira com o Paraguai. Todas as partidas serão disputadas no ginásio Jose Jorge Conte. Construído em 1970 e amplamente reformado em 2015, o ginásio aparenta ser acanhado pela TV, mas tem capacidade para 5 mil pessoas. Além disso, a torcida fica muito próxima à quadra, transformando o local num verdadeiro caldeirão, como foi possível notar na primeira fase.
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Sem mais delongas, vamos aos adversários do Bauru no Grupo F:
Regatas Corrientes
Começando pelos donos da casa, o Regatas já tem uma boa tradição na competição. Foi campeão da edição de 2010-11, no último título de um clube argentino na LDA. Os hermanos ainda bateram na trave em duas oportunidades futuras, mas nunca ergueram a taça. Assim como na primeira fase, é sede de seu grupo, usando o fator casa para tentar equilibrar as ações contra os adversários.
Conseguiu a classificação ao avançar em primeiro no grupo C, que também contava com Estudiantes (ARG), Hebraica Macabi (URU) e Leones de Ponce (POR). Com 100% de aproveitamento na competição até aqui, tem no jogo coletivo sua principal força. Na primeira fase foram quatro jogadores com média maior que 10 pontos por jogo. Além disso, ao lado do Estudiantes, é uma das equipes com mais assistências na competição, com média de 20,3 por jogo.
Também chama a atenção o fato do equilíbrio na distribuição de arremessos em quadra. Exatamente metade dos arremessos são da linha de três pontos, enquanto a outra metade são de chutes para dois. Não faz uma Liga Argentina de encher os olhos. Está bem no meio da tabela, com aproveitamento de 50% até aqui. Contudo, na Liga das Américas o desempenho está melhor.
Individualmente, o maior destaque do time é o veteraníssimo Paolo Quinteros. O ala, de 39 anos, liderou o time na pontuação na primeira fase. Além de toda a experiência, possui um bom chute da linha de três pontos e é o líder do time em quadra. Mas um jogador em especial atrairá os olhares bauruenses. Seu nome, já conhecido na Cidade Sem Limites, é o de Fabian Barrios. O ala-pivô ainda deixa muitas saudades no torcedor do Dragão e é um dos principais nomes do Regatas, com média de 10 pontos e 4 rebotes por jogo.
Assim como o Guaros de Lara, do qual falaremos mais abaixo, o Regatas se reforçou para a fase semifinal. O ala-pivô alemão naturalizado estadunidense Brandon Thomas chegou à Argentina na última semana. Thomas estava na Espanha e chega para substituir o lesionado Leemire Goldwire, que também não atuou na primeira fase.
Contudo, o Regatas ainda possui um plantel não tão qualificado como o do Bauru Basket e, principalmente, do Guaros. Ainda assim, é um bom time que daria trabalho em qualquer lugar do continente. O fato de jogar em casa equilibra ainda mais as ações, tornando fundamental o papel da torcida.
Estudiantes de Concordia
Segundo colocado do grupo C, o Estudiantes volta a Corrientes para tentar uma vaga no Final Four. Apesar de possuir o pior plantel do grupo, pode surpreender. Afinal, foi finalista da última Liga Sul-Americana, passando por cima de Vitória e Pinheiros, além de dar muito trabalho para o Flamengo. Só parou diante do Guaros de Lara, quando foi derrotado por 3 x 1 na final.*
*Na LSA a final é disputada em melhor de 5.
Mas voltando para a LDA, as estatísticas jogam contra o time argentino. Possui as piores médias em praticamente todos os fundamentos quando comparado aos demais semifinalistas. Tem apenas o 12° melhor ataque da competição, índice inferior ao de times já eliminados. Além de tudo, faz uma Liga Argentina ainda pior que a do Regatas: possui apenas 9 vitórias em 20 jogos.
O estilo de jogo do Estudiantes é bem mais cadenciado, até um pouco lento para os padrões brasileiros. Aposta também no jogo coletivo, dividindo a liderança em assistências nas semifinais com o Regatas: 20,3 por jogo. Não fez nenhuma alteração no plantel para a semifinal da Liga das Américas, então conta com os mesmos atletas do grupo C.
Chamam a atenção dois pivôs: Dominguez Bais e Portilla. Os pivôs argentinos são muito grandes fisicamente. Aparentam estar muito acima do peso, chegando a ser até curiosas suas atuações em quadra. Contudo, deram muito trabalho aos brasileiros na Liga Sul-Americana, apesar do tamanho e de uma velocidade um pouco menor se comparada aos companheiros de time.
Além deles, destacam-se Anthony Smith (15,7 pontos por jogo), Clay Tucker (12,7) e o cubano Javier Rivero (12). Nem de longe é favorito a avançar para o Final Four. Porém, já deu grandes mostras nesta temporada que não é um time a ser descartado. Além disso, joga em seu país, na mesma sede da primeira fase, já está habituado ao palco das partidas do final de semana e enfrentou três bons brasileiros nesta temporada.
Guaros de Lara
Atual bicampeão da Liga das Américas e vencedores da última edição da Liga Sul-Americana, o Guaros também é campeão venezuelano. Tudo o que foi possível vencer nos últimos anos, o Guaros venceu. Na primeira fase da LDA, em Bauru, não tomou conhecimento do San Salvador (ELS) e Correcaminos de Colon (PAN). Abriu uma grande vantagem contra o Dragão e, apesar do sufoco no último período, conseguiu avançar com 100% de aproveitamento.
A equipe venezuelana dispensa apresentações. Ao lado do San Lorenzo (ARG), possui o melhor elenco da América Latina e, como se não bastasse, levou dois reforços para a Argentina. Os americanos Mario Little (ala) e Robert Battle (pivô) se juntam ao time em Corrientes para chegar a mais um Final Four. Battle, inclusive, já enfrentou o Bauru duas vezes na LDA de 2016, quando ainda fazia parte do Quimsa.
Além de toda qualidade dos jogadores do Guaros, o time é certamente um dos mais entrosados da América. Isso porque quatro de seus titulares fazem parte da seleção venezuelana, que é comandada por Fernando Duró, também técnico do Guaros. São eles: Colmenares, Echenique, Guillént e Bethelmy.
O volume de jogo venezuelano é impressionante. Aliando muita rapidez e força física, além da técnica, a equipe pode resolver uma partida em poucos minutos. Na primeira fase chamou a atenção os números assustadores nos chutes de três pontos. Contra o Bauru, no grupo D, teve 55,2% de aproveitamento. Mas vale lembrar que, ao término do segundo período, os acertos estavam em 80%.
Os reforços pontuais para a semifinal chegam para suprir uma deficiência do time na primeira fase: a rotação curta. Ainda contra o Dragão, apesar das equipes esconderem o jogo em virtude da classificação assegurada, apenas 6 jogadores tiveram uma atuação significativa. É bem verdade que Vargas nem foi para o jogo, mas em comparação com o próprio Bauru Basket, que possui 11 atletas na rotação, os venezuelanos ficariam em desvantagem.
Ainda assim são os favoritos a pegarem o primeiro lugar do grupo. Um eventual tricampeonato da Liga das Américas seria algo inédito no continente, além de uma demonstração incrível de força com uma marca que dificilmente seria batida num futuro próximo. Porém, tem adversários à altura e vai precisar de muita qualidade para passar ao Final Four.
Grupo de reencontros
O grupo F da Liga das Américas reunirá quatro títulos da competição distribuídos entre o Regatas (2011), Bauru (2015) e Guaros (2016 e 17). Mas além disso o grupo será palco de alguns reencontros na competição continental. Vamos a eles:
Guaros 84 x 79 Bauru – O primeiro e mais icônico encontro entre as equipes. Na final da LDA 2016, o Guaros mostrou todo seu poderio para as Américas ao vencer um combalido Bauru Basket, vindo de uma semifinal duríssima contra o Flamengo e cheio de desfalques. Ainda assim, a partida foi emocionante e decidida nos minutos finais;
Bauru 88 x 93 Guaros – Mês passado, pelo grupo D da LDA 2018, as equipes se enfrentaram apenas para cumprir tabela. Afinal, ambas estavam garantidas nas semifinais e a classificação não importava. Assim, os treinadores esconderam o jogo – Guaros não teve Vargas, enquanto o Bauru não levou Hettsheimeir à quadra –, o que não impediu uma grande partida, principalmente no último período;
Regatas 80 x 62 Estudiantes – Confronto recorrente, por serem do mesmo país. Contudo, vamos falar apenas do histórico da LDA. Na primeira fase, também em Corrientes, os donos da casa não deram chances ao adversário e dominaram a partida do início ao fim.
Bauru 90 x 70 Regatas – Na LDA de 2015, também na fase semifinal, Bauru e Regatas também se enfrentaram em Cancún. A partida fez parte da histórica sequência de 32 jogos de invencibilidade do Bauru Basket na temporada. Contudo, o Regatas impôs grande dificuldade ao vencer o primeiro período. Depois, com boas atuações de Hettsheimeir, Larry e Jefferson, o Dragão conseguiu a virada.
Bauru x Battle – A equipe da Cidade Sem Limites já reencontrou outros atletas na competição. Contudo, vale destacar Robert Battle, um dos reforços do Guaros para a fase semifinal. Em 2016, o pivô jogava pelo Quimsa e foi derrotado duas vezes pelo Dragão: na primeira fase e nas semifinais.
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