VALEU O EMPENHO
Em chuva de bolas de três, Guaros derrota Bauru na Panela
Apesar do resultado, venezuelanos e brasileiros seguem para a próxima fase da Liga das Américas
Por Fabio Toledo | Fotos: Lucas Guanaes
Enfim, o ginásio Panela de Pressão teve um público jus ao tamanho de uma Liga das Américas. E o confronto nem valia tanto assim: Sendi/Bauru e Guaros de Lara faziam um duelo no qual ambos estavam classificados e a liderança do grupo, única coisa em jogo, não teria valor para a composição da segunda fase. Ainda assim, quem acompanhou a partida foi premiado por uma boa disputa, vencida pelos venezuelanos por 88 x 93.
Durante a maior parte da peleja, especialmente a partir do segundo período, o Guaros esteve à frente no placar. Descarregando seu arsenal de arremessos certeiros da linha dos três – bolas livres, forçadas, em “catch and shoot” e afins –, totalizando 16 tiros do perímetro certos em 29 tentados, foi difícil parar o trio Diego García (4/8), Luis Bethelmy (4/7) e Heissler Guillent (4/5). Gregory Echenique e Néstor Colmenares completaram boa parte do restante da pontuação de “Los Crepusculares”, ainda desfalcados do ala-armador José Vargas. Um desempenho incrível da equipe, tendo em vista a forte marcação bauruense.
Por mais que tenha sido difícil segurar os tiros dos visitantes, dando vantagem ao Guaros em momentos decisivos e calando a Panela quando Bauru ensaiava uma reação, o desempenho dos comandados de Demétrius Ferracciú foi bom. Além de Anthony e Renan, que foram elementos importantes na partida de classificação contra o Correcaminos, o Dragão contou com uma grande partida de seus jovens: Stefano, Gabriel Jaú e Maikão.
Vale maior destaque para Maikão. Apesar de algum problema na finalização no garrafão (4/10 no quesito), o pivô de 19 anos teve uma atuação de nível internacional. Jogando contra pivôs experientes, como Echenique – atleta da seleção venezuelana – e o francês Hervé Toure, Maikão brigou bastante e levou a melhor em muitas ocasiões, obtendo inclusive 6 rebotes de ataque. Recuperou ainda mais 5 bolas na defesa e, com 11 pontos, conseguiu um duplo-duplo.
Ainda assim, faltou experiência para esses jogadores. Experiência – e catimba – demonstrada por Bethelmy, que provocou e deu algumas pancadas na costela de Jaú sem a arbitragem notar, visando a desestabilização do ala-pivô bauruense. Experiência – e visão de jogo – que faltou a Maikão em alguns rebotes ofensivos, quando poderia servir a alguém no perímetro ao invés de insistir na cesta em todas as ocasiões onde recuperava a bola.
Derrota à parte, Bauru não fez uma partida ruim. Desfalcado de Alex – que foi até mesmo cortado da Seleção Brasileira e nem deve enfrentar o Minas, na próxima quinta, por conta de uma infecção intestinal – e poupando Hettsheimeir, o Dragão só não foi melhor que o Guaros, bicampeão das Américas, de um time que é base da seleção venezuelana campeã continental em 2015, e terminou como líder do Grupo D da Liga das Américas.
O jogo
Bauru começou a partida com uma formação alta, destacando-se Osvaldo como ala-armador, para fazer frente à estatura do Guaros. E a primeira cesta logo foi uma cravada de Jaú em contra ataque. Com Colmenares, os visitantes mantiveram o placar igualado, até Renan acertar bola de três e o Dragão quebrar o esquema de troca de cestas. Nos tiros longos também – um de Bethelmy e dois de Guillent – os venezuelanos voltaram a encostar.
Com as substituições, os bauruenses desequilibraram o ataque. Muitos erros do Dragão marcaram os dois minutos finais do período, que contou com o Guaros acelerando a transição e encaçapando bolas de três. Destaque para Colmenares, autor de 11 pontos no quarto. Assim, o atual bicampeão das Américas terminou a primeira parcial na liderança: 22 x 25.
O segundo período começou com Maikão e Duda virando o placar para Bauru, 27 x 25. Porém, mantendo o excelente aproveitamento em arremessos de “catch and shoot”, em especial nos tiros certeiros de Garcia (7), autor de 12 pontos na parcial, o Guaros recuperou a ponta e a vantagem. Vendo a sua equipe em dificuldade, Demétrius parou o jogo.
Após a parada, o time da bauruense pressionou mais o perímetro, com os pivôs se aproximando da parte de fora do garrafão. Isso levou a uma queda do aproveitamento dos venezuelanos, mas Bauru não compensou o suficiente do outro lado. O ataque do Dragão não se deu bem na marcação cinco contra cinco, chegando a forçar arremessos no estouro do cronômetro, e errou o passe final no garrafão em algumas ocasiões. Mais eficiente em quadra, o Guaros foi para o intervalo com 9 pontos de frente: 40 x 49 (18 x 24).
Mesmo com a marcação pressionando as jogadas, os visitantes conseguiram encaçapar suas bolas e abriram dois dígitos de diferença, contando com Bethelmy, destaque do início do segundo tempo. Bauru respondia quando a defesa funcionava e dava condições de uma transição acelerada, voltando a diminuir a vantagem do Guaros para menos de 10 pontos.
A maior pressão na marcação rendeu o primeiro pendurado da equipe bauruense, justamente Renan, grande destaque na pontuação, até então com 21 tentos. Mas a saída do pivô não alterou o processo de recuperação do Bauru. Encaixando a defesa, os donos da casa acertaram bolas de fora com Osvaldo e Stefano, diminuindo a vantagem para 6 pontos – 63 x 69 – no final do terceiro período, vencendo a terceira parcial – 23 x 20 – e inflamando a torcida.
Parecia que os bauruenses encaixariam uma virada no placar ao término do terceiro período. Porém, foi o Guaros quem começou melhor na parcial derradeira, abrindo 0 x 8 com tiros a média e curta distância – momento que viria a ser importante no final do jogo. Bauru só foi anotar o primeiro tento, em lance livre, depois de 3 minutos transcorridos do quarto. Ainda assim, sete pontos em sequência mantiveram o Dragão na cola do adversário.
Foi então que o desempenho linear do Guaros falou alto. Castigando Bauru o jogo todo na linha dos três, foi por ali que mantiveram a diferença e a partida sob controle. Com sete pontos seguidos, agora ao seu favor, o time venezuelano chegou ao minuto final com 11 pontos de frente. Ainda que o Dragão tenha mostrado força, fazendo 8 tentos em 32 segundos, não teve jeito. Vitória dos visitantes por 88 x 93.
Abre aspas
Renan – “Eles são um time de muita qualidade, campeão da América. Então foi um jogo bom, o time conseguiu pontuar bastante, mas falhou um pouco na defesa. Eles tiveram um aproveitamento muito grande de três pontos e a gente não soube lidar muito bem com isso. Conseguiram fazer isso quase o jogo inteiro, então essa foi a grande diferença”.
Maikão – “O time do Guaros é um time muito bem montado, exigiu bastante de mim e do Shilton no garrafão. Vínhamos no ritmo do NBB, em que os pivôs não são tão fortes e a gente sentiu, mas soube segurar o placar e não abriu tanto. Foi um bom jogo. Infelizmente não saímos com a vitória, mas classificamos e agora é focar para a próxima fase. Os times não estão vindo para brincadeira. Temos de nos reestruturar para poder aguentar os caras. Também tem que melhorar algumas coisas, tomamos muitas bolas de três, erramos muito. Agora é focar, treinar, ir para os jogos do NBB, trazer a experiência de lá e se preparar para a próxima fase.
(sobre primeira participação internacional) “Gostei bastante. Já tive várias experiências de jogar fora, mas eram com moleques da minha categoria ou um pouco abaixo. Agora, jogar com caras profissionais, mais pesados, mais fortes que eu, é outro tipo de jogo. A gente está acostumado com a arbitragem do NBB. Eles (árbitros do NBB) não pegam tanto nossos bloqueios, marcam mais paulada que a gente toma pra ir pra cesta. A internacional é diferente. Eles deixam rolar mais e focam mais no bloqueio. Foi uma experiência muito boa, foi bom ter essa briga no garrafão, saber que eu posso atacar, que posso segurar. Agora é só levar a experiência e melhorar”.
Demétrius – “O saldo foi muito positivo. Nós soubemos nos adaptar rápido, os jogadores que entraram mostraram qualidade. Hoje nós jogamos com dois armadores, o Jaú de 3 porque fisicamente o time do Guaros é muito atlético, muito pesado. Todo mundo deu conta do recado. É lógico que a gente queria ter saído com a vitória, mas são os detalhes, os detalhes que a experiência vai nos dando e vai fazendo com que a gente evolua também”.
(sobre Hettseimeir) “Hoje nós poupamos ele. Se fosse uma final, ele jogaria. Mas nós poupamos para não correr riscos, principalmente pela importância do jogo de quinta-feira, contra o Minas”.
O cara
O desempenho coletivo do Guaros de Lara falou bastante alto nesta partida. Porém, um nome em especial serviu tanto como finalizador como elo de ligação aos demais pontuadores. Da mesma forma que foi na partida contra o Correcaminos, Néstor Colmenares brilhou diante do Bauru. Com um desempenho excelente nos arremessos no primeiro período, foi importante para manter sua equipe próxima no placar. No decorrer dos 40 minutos, fez a função de brigar pelos rebotes no garrafão, recuperando 6 bolas no ataque – feito que o levou ao duplo-duplo – e ainda dando 6 assistências.
Destaques
Sendi/Bauru
Renan – 21 pts e 3 rebotes
Anthony – 19 pts e 4 assistências
Maikão – 11 pts e 11 rebotes (6 ofensivos)
Jaú – 9 pts e 4 rebotes
Guaros de Lara
Diego García – 19 pts
Néstor Colmenares – 18 pts, 11 rebotes (6 ofensivos) e 6 assistências
Luis Bethelmy – 16 pts e 7 rebotes
Heissler Guillent – 16 pts e 3 assistências
Próxima fase em Bauru?
Sim, existe a possibilidade de a próxima fase da Liga das Américas ser realizada novamente na Panela de Pressão. Tudo depende de quantas equipes enviarão o pedido para sediar o grupo e da avaliação da FIBA Americas, mas a cidade de Bauru está bem cotada para receber o Grupo F, que conta com os argentinos Estudiantes Concordia e Regatas Corrientes, além de Guaros de Lara e Bauru. Estariam na disputa para serem sede o Guaros – com a cidade de Barquisimeto – e o Regatas Corrientes – que já foi sede na primeira fase.
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