VAGÃO CULTURAL – THE ENGLISH GAME
O início do futebol profissional no século XIX é retratado em minissérie da Netflix
Por Lucas Guanaes
Em tempos de Premier League, liga nacional de futebol mais valiosa do mundo, e uma das principais entre todos os esportes, ficando atrás apenas da NFL (futebol americano), MLB (beisebol) e rivalizando com a NBA (basquete), a Netflix se debruçou sobre o início do futebol profissional, no final século XIX. Em uma época anterior às guerras mundiais, ainda em plena segunda revolução industrial, o esporte que viria a ser o mais jogado em todo o mundo, engatinhava. Assim surgiu The English Game.
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A Football Association, entidade que controla o futebol inglês até hoje, já existia, incluindo a tradicional FA Cup. Mas a modalidade, contudo, era amadora. A série começa em 1879, quando ainda era proibido receber salário para jogar futebol. As equipes eram compostas por nobres e burgueses, que montavam seus próprios times, ou por operários, que atuavam em equipes geralmente ligadas às indústrias em que trabalhavam.
Neste ano, segundo a série, que ajusta alguns detalhes históricos para encaixarem em sua narrativa, inclunido o jogo final, o time operário Darwen FC (dissolvido em 2009), contratou os escoceses Fergus Sutter e Jimmy Love, considerados pela FIFA como os dois primeiros atletas a receberem para jogar futebol, além de serem dois dos três protagonistas da obra. O grande objetivo do Darwen era vencer a FA Cup, feito inédito para uma equipe operária. Em seu caminho, contudo, havia, dentre outros clubes, o Old Ettonians (que ainda existe como clube amador), do terceiro protagonista, Arthur Kinnaird, burguês, estrela do futebol da época e futuro presidente da FA por 33 anos. Outro clube muito relevante na série é o Blackburn Rovers, atualmente na segunda divisão inglesa, a EFL Championship.
Os conflitos acerca da mudança de estilo de jogo proposta pelos escoceses, além da polêmica pelo recebimento de salário permeia boa parte da série. Vários personagens da época são resgatados, como os três protagonistas, além de dirigentes e cônjuges. Contudo, os dramas pessoais e profissionais das personagens são fictícios e ocupam um tempo considerável dos episódios, deixando o futebol em segundo plano no miolo da série. Apenas no começo e nos últimos episódios é que a bola de capotão volta a rolar com maior frequência.
Ainda assim, a minissérie vale a pena ser assistida. Além de retratar com qualidade as polêmicas do início da profissionalização do futebol, a difícil vida dos operários ingleses em contraste com a classe alta também se destaca, mostrando, já naquela época, o futebol como possibilidade de ascensão social. Muito disso se deve pelo fato do criador da série ser Julian Fellowes, de Downtown Abbey, premiada série que retrata o início do século XX na Inglaterra. Daí vem, também, o retrato de uma Inglaterra onde o sol também aparece, fazendo contraponto à fotografia fria e azulada que geralmente é utilizada para retratar o país em Hollywood.
Em resumo, a Netflix deu o sinal verde para Fellowes apresentar ao grande público os grandes personagens do início do profissionalismo no futebol por meio de uma grande produção. O estilo de jogo, bola, uniformes, estádios, além da vida profissional dos atletas amadores é um prato cheio para a quarentena – e também para depois dela. Todo o elenco de The English Game, inclusive, é composto por bretões e irlandeses, contribuindo ainda mais para a ambientação da obra. Apesar de alguns deslizes históricos e subtramas excessivas, a minissérie está entre os grandes lançamentos esportivos no streamming em 2020.
A série
The English Game (O jogo inglês)
Produção: Inglaterra
Ano: 2020
Produção executiva: Julain Fellowes
Elenco: Edward Holcroft, Kevin Guthrie, James Harkness, Charlotte Hope, Niamh Walsh, Craig Parkinson, entre outros
Episódios: 6
Duração: cerca de 45 minutos por episódio
Trailer legendado
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