A maior realização da vida
Por Fabio Toledo
A Locomotiva Esportiva foi lançada em 17 de agosto de 2014, mas já havia meses que eu planejava criar um blog (e, posteriormente, site) esportivo. Desde 2012, escrevia para meu próprio blog, onde fazia análises e dava opinião sobre vários acontecimentos esportivos em nível nacional e internacional. Cheguei a fazer um texto por dia durante a Copa do Mundo, especiais – que hoje são destaque na LE – já faziam parte do repertório do meu antigo blog.
O começo
Quando iniciei os estudos na Unesp, conheci um pessoal fã de esportes como eu e via neles totais condições de fazerem parte desse projeto maior. Faltava apenas a eles o interesse e a iniciativa de se fecharem para transformar essa ideia em realidade. Foi quando a greve na universidade seguiu após a disputa da Copa do Mundo. Eu ainda tinha meu blog, mas os demais não. E eles não se contentaram em trocar mensagens no grupo do WhatsApp, queriam produzir, criar um projeto coletivo.
Era o momento que eu esperava. Bruno, Edgard, Gustavo, Lucas, Rafael e Rodrigo construíram a “hype”, enquanto busquei guiá-los ao desenvolvimento da ideia. Sim, uma pessoa que tinha dois anos postando em um blog – com menos de 20 visualizações por mês – era a mais experiente do grupo. Mesmo sabendo das minhas limitações, fui esse guia para o surgimento da Locomotiva Esportiva (que só foi ter esse nome uma semana antes de ir pro ar, pois encontrar uma nomenclatura original o bastante foi nosso grande desafio, superado por Gustavo Abraão).
Muito por ser esse guia inicial, também acabei me tornando o editor-chefe. Afinal, alguém precisava ler todos os textos, organizar a produção. Além disso, segui produzindo conteúdo, agora não mais em meu blog, mas na LE. Logo no primeiro mês do site, fiz um especial de 12 partes contando a história da Sociedade Esportiva Palmeiras, que chegava ao seu Centenário. Ao longo do tempo, outras grandes matérias vieram, seja abordando seleções históricas em Copas Américas, seja apresentando a relação do narcotráfico com o futebol na Colômbia.
Acredito que meus principais trabalhos na LE estão relacionados mais ao trabalho de pesquisa, averiguação e resgate histórico, do que voltado a entrevistas. Mas ainda conto com algumas conversas que foram muito legais. Entre as exclusivas, gosto de lembrar da feita com o Dan Muller, então head coach da seleção brasileira de futebol americano, que estava às vésperas da primeira participação do país na Copa do Mundo de FA.
Batismo
Mas, voltamos à ordem dos fatos. Os primeiros meses do site foram malucos. Agosto e setembro tiveram muitas produções, mas chegou outubro. Foi um mês complicado, parando a produção de uma forma preocupante. Não custa lembrar que na época estávamos no primeiro ano da faculdade e, com o fim da greve, o fechamento do semestre chegou, assim como as provas e apresentações de trabalhos. Com isso, o ritmo foi outro. Se 58 matérias foram publicadas em agosto, 55 em setembro, apenas 14 foram ao ar em outubro.
Se em qualquer obstáculo fora do site tivéssemos uma queda tamanha de produção, a LE estaria encerrada antes mesmo do primeiro ano. Aproximando-se do fim de 2014, estávamos próximos do fim antes de ter começado a fazer a diferença. Foi quando o semestre na faculdade terminou e, na semana seguinte, iniciou os Jogos Abertos do Interior em Bauru. A decisão de que faríamos a cobertura foi feita, literalmente, na véspera. Procurei informações sobre o credenciamento e notei a facilidade. Com pouca burocracia, dei o nome de todos os membros e partimos para a cobertura mais insana do site até hoje.
Como as férias haviam começado, alguns membros já tinham voltado para suas cidades. Mas a possibilidade de cobrir um evento tão importante do interior paulista motivou o retorno de todos. Nos Jogos, fiz a cobertura dos esportes disputados no Complexo Damião Garcia, que abriga o ginásio Panela de Pressão e o estádio Alfredo de Castilho. Por ser o local onde atuaram Bauru Basket, Vôlei Bauru e Noroeste, realizei os primeiros contatos para inserir a LE entre os veículos de cobertura das três grandes bandeiras do esporte bauruense. O contato com outros jornalistas também me garantiu a troca de experiências. Assim, por mais cansado que eu terminava os dias de cobertura, a gratificação era compensadora.
Conseguimos fazer parte da aventura do Vôlei Bauru pelo cenário nacional logo no início, na estreia pela Superliga B. Enquanto éramos quase únicos na cobertura dos jogos, criamos uma relação de proximidade, algo que com o Bauru Basket não existia da mesma maneira. A burocracia na Liga Nacional de Basquete e do próprio Bauru manteve nossa cobertura dos jogos ainda da arquibancada por mais um ou dois meses, a ponto de o primeiro trabalho basqueteiro credenciado da LE nem ter sido em Bauru, mas em Franca, no Jogo das Estrelas.
Aventura entre Estrelas
Imagine você: um aluno do primeiro ano da faculdade, de um site ainda desconhecido, chegar em uma cidade que nunca antes havia passado para realizar uma cobertura solo. Lá estava eu, no último lugar da área destinada à imprensa, quase caindo na arquibancada, onde podia ver grandes nomes da história basqueteira de Franca, entre os quais Hélio Rubens Garcia, figura lendária que tive a oportunidade de pegar algumas palavras ao término do evento, em meio a muitos jornalistas.
Não só dele peguei aspas, mas também de quem fez o evento, como Larry Taylor, Cipolini, Guerrinha e Hortência – única pessoa perfumada em meio aos marmanjos. Porém, não foi só o Jogo das Estrelas que me marcou. Conhecer um pouco da cidade de Franca e o quanto se respira basquete por lá deu a nota de porque seria a Meca do basquete nacional.
Dois anos depois, fui para meu segundo Jogo das Estrelas. Dessa vez, o palco era o também emblemático Ginásio do Ibirapuera em São Paulo. Sou um sujeito do interior que nunca havia passado um dia sequer na capital paulista. Então, foi mais uma aventura memorável. Agora ao lado de Lucas Guanaes, fizemos uma cobertura melhor, de um evento voltado ao espetáculo.
In English
Meu inglês não é ruim, mas quando você vai falar em inglês com quem tem nele sua língua nativa, o receio é enorme. Confesso que pensei três vezes antes de fazer minha primeira entrevista em outro idioma por conta disso, mas tirei coragem não sei de onde e me aproximei de Roy Booker, contratação relâmpago do Bauru Basket. A conversa não fluiu tanto, porém consegui me comunicar com ele.
Quando chegou a segunda ocasião, já era Jogo das Estrelas em São Paulo. Em meio a vários repórteres, tive a oportunidade de falar com Corderro Bennett, vencedor do Desafio de Enterradas. Dessa vez, meu inglês não teve deslizes. Nem o espanhol, quando fui “hablar” com a líbero Shara Venegas, do Vôlei Bauru, pela primeira vez. Parece pouca coisa, mas foi uma conquista pessoal grande.
Podcast
Minha ideia inicial no jornalismo era de ser locutor esportivo. Sou fã de muitos, como Oscar Ulisses (não peguei a época de seu irmão, Osmar Santos, mas do pouco que ouvi dele, acho “o Pai da Matéria” sensacional), Dirceu Maravilha, José Silvério, José Carlos Araújo, Pedro Ernesto, Rafael Antônio (para os bauruenses). Porém, ao definir minha ida ao jornalismo, criei meu blog e desenvolvi a escrita, me afastando bastante desse desejo que me fez escolher a carreira que busco trilhar.
Ainda assim, mantenho minha idolatria pelo rádio, tanto que fui totalmente favorável em criar um podcast da LE. Nas quatro edições que tivemos do programa, todas voltadas a eventos especiais – fim do NBB 8 e três programas sobre as Olimpíadas -, fui o apresentador, fiz o trabalho de decupagem e edição de som. O podcast foi sensacional por desenvolver esse lado que germinou o plano de ser jornalista.
Por que parou? Parou por quê? Pelo fato de o Soundcloud (plataforma que divulgávamos os programas) começar a cobrar pelo armazenamento após passarmos de três horas de gravação. E o valor cobrado é bastante alto para um site que não possui patrocínio, nem investimentos. No entanto, a oportunidade de retornar com o podcast surgiu e estaremos de volta.
Arte
Que eu seria editor-chefe de um site até poderia acontecer, mas que eu também seria o responsável pelas artes dele, nunca imaginei. O conhecimento, ainda que pouco, de Photoshop e InDesign me fez enveredar por esses caminho e fiz quase todas as artes presentes nas matérias do site. Entre as que mais gosto, estão as dos especiais do NBB 8 e 9, do Mercadão e um infográfico que fiz apresentando as duas equipes que disputaram o Super Bowl 50.
Também fui o responsável pelo desenvolvimento do segundo e do terceiro layout do site, quando ainda estávamos na plataforma Wix. Ao migrarmos para o WordPress, pegamos um modelo pré fabricado. Apesar de não ser o modelo perfeito, a mudança de plataforma foi uma das maiores iniciativas que tivemos, pois agilizou o site e simplificou muitas coisas.
Jamais esqueceremos
Só teve uma vez que eu não queria ter feito uma cobertura – de jogo ou evento – nesses até então três anos de LE. Dia 30 de novembro de 2016. Quando acordei mais cedo com a informação de que o avião da Chapecoense teria caído foi a maior tristeza que passei como fã de esportes e jornalista esportivo ao mesmo tempo. Mesmo sem conhecer de perto nenhuma das vítimas, sabia quem eram pela televisão e até tinha torcido por muitos daqueles.
A perplexidade fez eu não chorar – o que só foi acontecer no velório na Arena Condá. Mas o dia não tinha terminado e, no início da noite, Bauru Basket e Vasco da Gama duelariam pelo NBB na Panela. O jogo não teve o mesmo clima de outras partidas, as conversas não tinham tanto a ver com o que acontecia em quadra, mas com o que rolou e rolava na Colômbia. Bauru venceu, cumpri com meu dever de informar sobre a partida, mas de fato, foi duro demais.
A LE
Vejo que a formação da minha base jornalística foi realizada principalmente na Locomotiva Esportiva. Talvez eu viria a ter contato com as pautas que cobri se estivesse em outras iniciativas ou mesmo projetos de extensão da universidade, mas não tanto com tive pela LE. A grande dedicação que tive pelo projeto tornou minha maior realização da vida até aqui. Porém, acredito que podemos chegar mais longe. Mesmo depois de formado, não há dúvidas que pretendo desenvolver o site e projetos vinculados a ele.
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