DE CORAÇÃO
Por amor ao pai, Richarlyson vai disputar A3 pelo Noroeste
Por Fabio Toledo
O ano era 1989, quando Reinaldo Felisbino, o Lela, retornava ao Esporte Clube Noroeste, clube que o revelou, depois de quase uma década de muita história na elite do futebol brasileiro. Um dos destaques do inédito, e ainda único, título de campeão brasileiro do Coritiba em 1985, Lela voltava ao Norusca para sua segunda passagem. Ele ainda tinha 27 anos, jogaria profissionalmente até os 32, mas já se tratava de um jogador consagrado nacionalmente que chegava ao Alvirrubro.
Pode-se dizer que, 29 anos depois, a história se repete. Richarlyson nunca defendeu as cores do Noroeste, de fato, mas assim como seu pai chega ao Norusca depois de uma carreira consagrada. Tricampeão brasileiro, campeão da Libertadores e campeão do Mundial de Clubes, o jogador que completa 36 anos no próximo dia 27 iniciou uma página marcante em sua carreira: irá disputar a Série A3 do Paulista pelo Noroeste.
O adjetivo utilizado para este novo capítulo da carreira de Richarlyson não tem conotação negativa. Observando de fora, muitos podem pensar desta chegada do jogador multicampeão pelo São Paulo como o final melancólico de seus anos no futebol profissional, disputando o terceiro escalão do futebol paulista. Mas o aspecto marcante da escolha do volante em defender o Noroeste tem a ver com o fato de ser uma decisão do atleta defender o clube, sem nenhum custo ao Noroeste.
“Obviamente, se fosse pelas próprias pernas, o Noroeste não teria condição de trazer um jogador do porte do Richarlyson pra estar aqui conosco. Mas, graças à paixão, a boa vontade e o desejo de querer trazer o Noroeste de volta às primeiras divisões, o Richarlyson abraçou a ideia junto conosco. Ele está fazendo isso de coração, vai jogar a A3 pro Noroeste a custo zero pro clube”, destacou o presidente do Noroeste, Estevam Pegoraro.
De acordo com informações passadas pelo próprio atleta, havia propostas de clubes até mesmo da primeira divisão paulista para contar com seu trabalho, mas Richarlyson se decidiu pelo Noroeste por um motivo em especial: Lela. “É um momento diferente e, ao mesmo tempo, único que estou vivendo aqui. Uma das coisas que contribuíram muito pra eu aceitar esse desafio é meu pai, que tem uma história incrível aqui neste clube, é nascido em Bauru. Eu não nasci aqui, mas moro aqui desde pequenininho. Então, foi muito pela parte dele que eu aceitei esse projeto. Tenho praticamente 20 anos de profissional e conciliar fazer aquilo que você gosta, o dom que Deus te deu, junto das pessoas que você mais ama, no caso meu pai e minha mãe, e num clube em que meu pai fez história, acho que só poderia retribuir isso aceitando esse pedido”, conta o novo meia noroestino.
A lembrança da infância e as memórias do pai contribuíram ainda mais para o acerto. “Eu lembro quando disputei até o Campeonato Brasileiro pelo Noroeste, jogando contra o Flamengo, Botafogo, Coritiba, Grêmio, São Paulo, em 1978. Era casa cheia e a gente ficava satisfeito de ver o torcedor. Pra eu que sou de Bauru, é triste ver o Noroeste em uma divisão que não merece estar. Então, a gente espera que, com a vinda do Richarlyson, o clube se encorpe mais ainda pra conseguir o acesso e voltar pra primeira divisão”, disse Lela.
A Série A3 do Paulista é uma nova experiência para Richarlyson. Seu último clube foi o Cianorte, onde disputou a Copa do Brasil e o Campeonato Paranaense no primeiro semestre de 2018. Desde então, o atleta estava em Bauru, sem clube, mas não parado. “Eu não consigo ficar parado. A única atividade que não estava fazendo era mesmo a dentro do campo, mas vinha fazendo academia, faço crossfit, corrida. Então, fisicamente, não estou tão mal, devo estar uns 80, 85% da minha capacidade. Agora, há uma readaptação dentro do campo, que aí tem que juntar a parte física com a parte técnica”.
No dia do anúncio como novo jogador noroestino, Richarlyson foi a campo pela primeira vez, participando de uma pequena parte do treino com seus novos companheiros e já teria agradado o técnico Betão Alcântara. “O Betão já queria me levar amanhã pro jogo, e eu trabalhei no físico e depois entrei nos dez minutos finais do treino. Então, guardadas as proporções, não devo estar tão mal fisicamente, senão ele não queria me levar. Agora, conversando com o Deda (gerente de futebol), talvez no jogo em Marília, no dia 29, eu possa participar de uma parte, dependendo do professor”.
Embora a escolha de defender um clube de divisão inferior possa dar um sentido de final de carreira para um atleta que tantas coisas conquistou no futebol, Richarlyson comenta que ainda está longe de parar. “Diferente do que alguns já pensam, eu não vim aqui porque estou encerrando carreira, tinha muitas outras propostas pra aceitar, mas resolvi abraçar essa causa. Ainda tenho muito a apresentar e dar pro futebol, não só paulista, mas brasileiro, e adoro desafio. Agora, é falar pouco e trabalhar muito pra que no final a gente possa estar aqui falando de coisa boa, no caso o acesso pra A2”.
O presidente Estevam Pegoraro tratou essa novidade como a cereja do bolo no elenco alvirrubro. Ainda assim, o próprio Richarlyson comentou que, sozinho, não conseguiria levar o Noroeste a lugar algum. “Uma das poucas contrapartidas que o Richarlyson nos pediu pra vir pra cá era que a gente tivesse um time competitivo pra brigar pelo acesso. Foi um compromisso pessoal meu com ele, falei pra ele vir nos ajudar porque não ia deixá-lo numa barca furada. Montamos um time pra subir, estamos vendo isso nos primeiros amistosos que está correspondendo. Com o entrosamento, mais a chegada do Richarlyson, vai mostrar que vamos brigar pelo acesso e, daqui uns cinco meses, vamos estar aqui comemorando”.
Por conta da limitação de atletas inscritos para a competição, o Noroeste fechou seu elenco com 26 jogadores. Em breve, analisaremos a composição do grupo noroestino para a Série A3 (fique ligado).
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