DE NOVO
Novo caso de agressão em Bauru. Desta vez, contra os árbitros que apitaram o jogo 2 das finais
Por Lucas Guanaes
Sem limites. Poderia muito bem ser apenas um dos inúmeros apelidos carregados pela cidade de Bauru, bem como cidade sanduíche, capital mundial do voo a vela, entre outros. Mas cá estamos nós novamente falando sobre agressões no ginásio Panela de Pressão. O cenário é o mesmo. Derrota do Bauru em um jogo de playoffs diante do seu próprio torcedor.
A arbitragem foi extremamente polêmica na partida, principalmente nos dois últimos períodos. Ainda, como se não bastasse, errou em lance capital no último minuto de jogo. Até em razão disso, jogadores e comissão técnica do Bauru, bem como a torcida, ficaram indignados com os erros cometidos após o zerar do cronômetro.
Porém, após a partida, alguns torcedores ficaram esperando a arbitragem deixar o ginásio e dois deles agrediram o árbitro principal, Cristiano Maranho. Foi registrado um Boletim de Ocorrência no qual são relatados, de acordo com o árbitro, socos no rosto desferidos por dois torcedores bauruenses. A informação está no Globoesporte, que teve acesso ao B.O.
A Liga Nacional de Basquete emitiu uma nota sobre ocorrido ainda na madrugada:
“Diante dos fatos ocorridos após a realização do Jogo 2 da série final entre Gocil/Bauru Basket e Paulistano/Copore, a Liga Nacional de Basquete (LNB) lamenta e repudia os atos de violência física e moral em relação à equipe de arbitragem.
A LNB tem como propósito realizar eventos de esporte e entretenimento e lamenta que situações como essa ainda ocorram na sociedade brasileira.
Na mesma noite, a LNB, com total apoio da Polícia Militar de Bauru, realizou o Boletim de Ocorrência e dois torcedores foram levados imediatamente ao Distrito Policial. O Boletim de Ocorrência será também encaminhado ao Ministério Público com o intuito de solicitar o afastamento imediato desses torcedores dos próximos jogos do NBB.
A LNB também enviará todos os relatórios da partida para a procuradoria do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que tomará todas as medidas cabíveis na esfera esportiva.
Além disso, a LNB reitera que está convicta em relação ao trabalho realizado com a arbitragem durante a temporada e manterá o planejamento até o final do campeonato”.
O Gocil/Bauru Basket também se pronunciou sobre o ocorrido em sua página no Facebook:
“Nota de repúdio
A Associação Bauru Basket repudia os incidentes ocorridos com a arbitragem aproximadamente duas horas após o termino do jogo e fora das dependências do ginásio Panela de Pressão.
A equipe de arbitragem saiu escoltada pelos seguranças privados, mas que infelizmente não foram suficientes para evitar agressão ao arbitro Cristiano Maranho. A Polícia Militar de Bauru estava presente e prontamente interveio, identificando e prendendo e os dois agressores .
Faremos todo esforço possível para que esses agressores sejam punidos criminalmente e ambos estão preventivamente proibidos de frequentar qualquer jogo que tenha o Bauru Basket como mandante enquanto aguardamos orientações do nosso departamento jurídico.
Fatos isolados como esse não representam a grandeza e a paixão que os cidadãos bauruenses têm por sua equipe e pelo esporte”.
Diante de toda essa situação, podemos tirar algumas conclusões. O episódio reuniu dois dos maiores problemas da LNB em um só: arbitragem e segurança. No primeiro deles, nenhuma alteração até então. Até por restar no máximo 3 jogos na temporada, realmente não há tempo hábil para grandes mudanças, além de cobrar um maior critério dos árbitros nos próximos jogos. Vale salientar também que a revisão por vídeo, uma das grandes novidades destas finais, não poderiam ser usados na partida em Bauru nos lances em questão, por serem meramente interpretativos.
Já no segundo problema, há uma pequena sinalização de melhora. A identificação dos “torcedores” e seu afastamento dos jogos é uma medida que deveria ser tomada há tempos nas confusões que ocorrem nos jogos. A maioria das brigas e agressões ocorrem nos jogos de maior mídia, ou seja, em quase todos há transmissão televisiva, com imagens que deixam claro os rostos dos agressores.
No caso em questão não existem imagens, mas sim o B.O. e a identificação pela própria polícia. Talvez pela agressão ter sido realizada diretamente contra um membro representante da LNB, a mesma resolveu tomar alguma posição mais firme. Quanto ao Bauru, segundo o artigo 213 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, pode sofrer multa e ainda a perda de mandos de quadra.
Ou seja, dessa vez, além de sofrerem punições mais severas, os agressores provavelmente prejudicarão a entidade Bauru Basket e, além disso, os verdadeiros torcedores que comparecem ao ginásio para torcer para o time. O placar do jogo 2? Continua o mesmo.
O fato é tão absurdo que deixa Cristiano Maranho em uma situação de vítima. Ele estava apenas fazendo o seu trabalho em Bauru. Mas, passível de erro, errou. E errou muito. Porém, a agressão física é algo inadmissível nos dias de hoje. Existem as punições cabíveis aos erros da arbitragem e nenhum deles passa por agressão vinda por parte da torcida.
Ainda é possível se ater a uma diferença na ação dos agressores. Contra o Pinheiros, o problema ocorreu como reação instantânea a uma provocação descarada. Inclusive, isso virou “argumento” para defender as agressões. No entanto, dessa vez, a situação foi pensada, pois esperaram a saída da arbitragem. Seria muito inocente acreditar que não ouve uma ação premeditada nesse caso.
Terminamos repetindo os últimos parágrafos do texto feito após a agressão no duelo contra o Pinheiros (a torcida bauruense se tornou reincidente nas agressões):
Talvez, o grande problema da torcida brasileira, do basquete, do futebol e dos demais esportes de massa, é essa separação que acaba sendo feita da sociedade. Não adianta o torcedor falar que é cidadão de bem, pai de família, trabalhador, não ser “marginal” e afins se, no ginásio, no estádio e demais praças esportivas não agir como tal. Óbvio que não é necessário se transformar no extremo oposto (a popular “torcida cordeirinha”), mas é preciso ter bom senso para saber que seu ato pode acarretar em outros ainda piores, muitas vezes inesperados. Em uma palavra mais impactante: tragédias.
O basquete nacional, vendo o surgimento de novos heróis dentro de quadra, buscando sair do fundo do poço – e conseguindo isso ao longo dos nove anos de NBB, e agora com a nova CBB – só tem a perder com essa ideia tosca de uma parcela dos torcedores e das equipes, que muitas vezes acobertam ou deixam passar muitos atos degradatórios ao esporte. Isso precisa acabar.
- VIA
- Lucas Guanaes
- TAGS
- Basquete
- Bauru Basket
- Bauru e Interior
- LE
- NBB
Leave a comment