VAGÃO CULTURAL – MARADONA BY KUSTURICA
Divertido documentário mostra diretor nascido na antiga Iugoslávia no rastro de D10S
Por Gustavo Abraão
Maradona ou Pelé? Quem foi melhor? Uns vão dizer que o argentino, muitos, que o brasileiro é o maior de todos. Entretanto, se olharmos a adoração (ou não) que cada um deles tem no país de origem, o canhoto leva. Não é segredo pra ninguém que o tricordiano é mais amado em terras estrangeiras, muito por conta das constantes polêmicas envolvendo o Edson Arantes do Nascimento, enquanto que Diego Armando Maradona é endeusado, literalmente, pelos seus conterrâneos.
O documentário de Emir Kusturica se propõe a ser uma homenagem, seja ao talento futebolístico de Dieguito, seja às suas convicções políticas. Sempre misturando ambos com entrevistas e cenas gravadas em diversas cidades, como Buenos Aires, Nápoles e Saravejo.
É recorrente o replay do gol do documentado, em 1986, na Copa do Mundo, em cima da Inglaterra; há até animações, em que ele dribla George Bush, Príncipe Charles, Tony Blair, Rainha Elizabeth e Ronald Reagan. Segundo ele, a vitória no México foi uma espécie de revanche à Guerra das Malvinas – em virtude do episódio, Maradona afirma que recusou um encontro com Charles, já que ele seria o responsável por “derramar o sangue de milhões”.
Ainda falando sobre o viés político, El Pibe de Oro elogia, sempre que possível, as figuras de Fidel Castro e Che Guevara, revolucionários cubanos tatuados em sua pele. Os moradores da ilha também são exaltados: “Quanto mais conheço os europeus, mais gosto dos cubanos… quanto mais vejo os sul-americanos, mais gosto dos cubanos.” Evo Morales e Hugo Chávez também são analisados de maneira positiva. Por defender tais líderes, que não se submeteriam ao imperialismo americano, Kusturica assegura que, não fosse jogador, Maradona seria revolucionário.
No momento mais emocionante do filme, Diego diz que a cocaína atrapalhou o relacionamento com as filhas, pois, quando elas eram crianças, estava rotineiramente drogado. Nos aniversários, terminava sempre mal, tanto que uma delas não gostava de lhe dar beijo.
Sobre o episódio em 94, na Copa, insinua que João Havelange o sabotou: lembra que na repescagem, diante da Austrália, em nenhum dos dois jogos a Fifa fez exame antidoping. No entanto, nos EUA, teve que se submeter ao teste – no qual, ele foi pego por uso de cocaína. Segundo sua tese, Havelange via a Argentina como potencial candidata ao título, sendo que queria o Brasil campeão.
Para os fãs do jogo de futebol, é sempre um deleite as imagens de gols com a precisa perna esquerda. Talvez muitos não saibam, mas Maradona jogou pelo Barcelona antes de se transferir para o Napoli. Desse período de sua carreira, temos várias imagens.
No entanto, apesar dessa quantidade de situações apresentadas, os pontos altos são quando recebemos informações sobre a Igreja Maradoniana, fundada para adorarem o deus, ou D10S para eles – é tão engraçado e curioso que fica impossível escolher a melhor.
O único ponto negativo fica para o fato de que pequenos trechos de outros filmes do diretor são exibidos de maneira aparentemente aleatória.No fim, independentemente de suas convicções políticas, Maradona by Kusturica é uma boa indicação, tanto para quem é amante do futebol, quanto para aqueles que gostam de grandes personagens.
O filme
MARADONA BY KUSTURICA
Direção: Emir Kusturica
País: França-Espanha
Duração: 96 minutos
Lançamento: 2008
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