VAGÃO CULTURAL – ESPECIAL MARADONA
Por Fabio Toledo
O dia 25 de novembro de 2020 será lembrado para sempre como aquele do adeus ao mais singular dos personagens da história do futebol. De um talento incomparável e sucesso prematuro, Diego Armando Maradona deixou o bairro de Villa Florito, no subúrbio de Buenos Aires, para ser o maior nome da modalidade na década de 80.
De fato, o maior artista da bola. Teve seus desvios ao longo da vida, como muitos artistas, dificuldades para ser autêntico em meio a tanto assédio da mídia, mas com um aspecto humano que poucas divindades do mundo esportivo conseguiu ter. É talvez esse aspecto divino e mundano, genial nos gramados e, digamos, autêntico fora deles que podem explicar tamanha popularidade do D10s. Mais do que isso, a idolatria de muitos, argentinos ou não, pelo Pibe de Oro.
E tal paixão a Don Diego fica notória na quantidade de produtos culturais que foram desenvolvidos para valorizar, relembrar e até mesmo cultuar o eterno camisa 10 da Argentina, do Argentinos Júnior, do Boca, do Barcelona, do Napoli. Separamos 10 (como não seria diferente) produções, entre cinema, literatura e música, que falam do Maradona.
Como se trata de um post para mostrar homenagens a ele ao longo do tempo, deixamos de fora livros escritos pelo próprio, como Yo soy Diego de la gente (2004), A Mão de Deu – A Minha Verdade (2016) e Mexico 86: Así ganamos la Copa (2016).
La Mano de Dios (2000), canção de Alejandro Romero
O campo da música rendeu inúmeras homenagens à Maradona desde os anos 80. A mais expressiva foi esta criação de Alejandro Romero, interpretada por Rodrigo “El Potro” Bueno e que virou hino para os fãs de Diego. Com tons épicos, poético e também popular, conta a história do garoto presenteado por Deus com uma canhota imortal, que sonhava em jogar uma Copa do Mundo e ajudar financeiramente sua família, mas que também carregou uma “pesada cruz” por ser tão bom. A fama veio, e com ela os prazeres e vícios.
Amando a Maradona (2005), documentário de Javier Martín Vázquez
A idolatria ao camisa 10 argentino é retratada nesta obra, que vai de Ville Fiorito até Nápoles mostrar as pessoas “tocadas” pelo Pibe de Oro. O próprio Maradona faz um balanço de sua vida e do contato com tal idolatria, do subúrbio de Buenos, passando, pela Patagônia Argentina, Rio de Janeiro, Cuba, Barcelona, Nápoles, Zurique, entre outros lugares do mundo.
La Vida Tombola (2007), canção de Manu Chao
“Si yo fuera Maradona, viviría como él”, é assim que se inicia a canção de Manu Chao, cantor francês radicado na Espanha e de contato intenso com a cultura latina. Afinal, vida é uma tômbola, uma loteria. O sucesso, para muitos que viveram realidade semelhante ao garoto Diego, jamais chegou. Sendo Maradona quem era, chegando onde chegou e de onde partiu, nunca estaria equivocado por viver o mundo à flor da pele.
Maradona, la Mano di Dio (2007), filme de Marco Risi
Depois da Argentina, o país que mais vivenciou diretamente a presença de Maradona foi a Itália. Por lá, fez história com o Napoli, grande representante do Sul do país diante de grandes esquadrões do Norte. Sendo o cinema italiano um dos principais produtos culturais modernos de lá, ele não ficaria de fora de ter abordagens sobre um dos maiores jogadores da história. Em Maradona, la Mano di Dio, é contada toda a trajetória do Pibe de Oro, da Villa Fiorito para o mundo. Os triunfos e as dores de um semideus, divino, porém humano.
Para verte gambetear (2004), canção de Jorge Alorsa
Uma canção de amor para Diego Maradona. Alorsa era o líder da banda La Guardia Hereje, até falecer, vítima de um infarto, em 2009. Ele retrata seu ídolo com o sorriso de uma criança, com o braço guerrilheiro, o coração do subúrbio e a canhota endemoniada, com um talento que, onde estivesse, todos queriam vê-lo driblar: da vila, da Catalunha, da Máfia Napolitana, a Camorra, do céu ao inferno.
Diego Maradona (2019), documentário de Asif Kapadia
O diretor de Senna, cinebiografia do ídolo do automobilismo mundial Ayrton Senna, e Amy, sobre a cantora britânica Amy Winehouse, produziu este filme que aborda, principalmente, a trajetória de Maradona em sua época na Itália, entre 1984 e 1991. Com um grande acervo de imagens, a obra mostra as conquistas pelo Napoli, a Copa de 1986, a adoração dos torcedores à sua imagem, bem como os problemas da fama e de não poder ter uma vida comum, chegando ao maior contato com a máfia napolitana. Kapadia mostra a ascensão e a queda do jogador de futebol Diego Maradona.
Maradó (1996), canção de Andrés Ciro Martínez
O período de atuação de Diego Maradona no futebol aconteceu justamente no momento de crescimento do rock argentino, em meados dos anos 80. Enquanto Diego gambeteava nos campos, bandas como Soda Stereo, Los Fabulosos Cadillacs, Los Enanitos Verdes, Los Rodrígues, Rata Blanca, La Renga entre outras surgiam e se popularizavam em uma nova geração de jovens rebeldes, no estilo Maradona. Los Piojos foi uma banda que surgiu em 1988, e a responsável por uma homenagem roqueira ao D10s, na reta final de sua carreira.
Maradona por Kusturica (2008), documentário de Emir Kusturica
O premiado diretor sérvio mostra sua admiração à figura de Diego Maradona neste documentário. Busca explicar sua representação para o mundo, passando por sua história de vida, e apresentar a pessoa por trás do D10s, acompanhando Diego entre 2005 e 2007, desenvolvendo suas visões não apenas sobre sua vida, mas também sobre assuntos do cotidiano e da política.
Foto: Reprodução
El Camino de San Diego (2006), filme de Carlos Sorín
Essa comédia do cinema argentino conta com bom humor do que se trata o fanatismo a Diego Maradona. Um lenhador desempregado encontra um pedaço de árvore que lhe lembra a figura de seu ídolo, justamente no momento em que Maradona passa por problemas cardíacos. Querendo demonstrar seu apoio, ele decide entregar o pedaço de árvore para Maradona. Para isso, precisa percorrer um caminho de cerca de mil quilômetros, da província de Misiones, divisa com o Paraguai, até Buenos Aires.
Maradona, capítulo de Futebol ao Sol e à Sombra (2004), de Eduardo Galeano
Um dos maiores escritores latino-americanos, em seu principal livro sobre futebol, dedica um capítulo especial para falar do camisa 10 argentino. Nele, Galeano faz observações a respeito de sua condenação por doping, na Copa de 94, bastante conveniente num momento no qual ele puxava o coro contra os desmandos da FIFA. O uso de cocaína é fato, mas o escritor ressalta que o vício era mais uma questão social do que uma tentativa de se apresentar melhor em campo. “Jogava melhor do que ninguém, apesar da cocaína, e não por causa dela”. Havia no ídolo o peso de carregar uma multidão de fãs nas costas, mas “o prazer de derrubar ídolos é diretamente proporcional à necessidade de tê-los”. De um gênio da literatura, sobre um gênio dos gramados, mas vale a leitura do livro todo.
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