DOSSIÊ VELO CLUBE
Conheça o adversário do Noroeste nas semifinais da Série A-3
Por Fabio Toledo
Dois jogos separam quatro equipes do acesso para a Série A-2. Na mais longa disputa da terceira divisão do século XXI – quiçá da história, desde a formação do sistema de escalões vigente –, EC São Bernardo, Comercial, Noroeste e Velo decidem quais os dois clubes que ascenderão para a divisão de cima em 2021. Quatro agremiações históricas de suas localidades, que vão inserir mais tradição para a A-2.
Dono da melhor campanha na fase classificatória, o Norusca foi quem mais sofreu pra avançar das quartas de final, obtendo a vaga nos pênaltis frente ao Nacional. O Alvirrubro luta contra um histórico desfavorável aos líderes da primeira etapa, onde apenas um clube nos seis últimos anos terminou na liderança e subiu de divisão (Portuguesa Santista, em 2018). Entre os fracassos, é possível considerar que o mais marcante foi justamente o do Velo Clube, adversário noroestino nesta semifinal.
Isso porque o clube rubro-verde de Rio Claro fez uma campanha excepcional na primeira fase do ano passado. Venceu 10 jogos, empatou cinco, terminou como líder invicto da etapa classificatória. A empolgação era grande, mas, logo nas oitavas de final, veio o balde de água fria: eliminação para o Osasco Audax, que havia terminado em oitavo. O fracasso deixou marcas, mas também deu um conhecimento à equipe para as edições seguintes. O time não chega com tanto alarde para as semifinais de 2020, só que já está mais perto do acesso em comparação a 2019.
Pitadinha histórica
A Associação Esportiva Velo Clube Rioclarense é exatamente quatro dias mais antiga que o Esporte Clube Noroeste. Surgiu em 28 de agosto de 1910, com a finalidade de promover o ciclismo na cidade de Rio Claro. Assim seguiu o clube em sua primeira década de existência, até ocorrer a fusão da agremiação com o Comercial F.C., clube de futebol da cidade. Então, o Velo se filiou à Associação Paulista de Esportes Atléticos (A.P.E.A.) para a disputa da sua competição, dividida entre Divisão do Interior e Divisão da Capital.
A grande conquista do Galo Vermelho em âmbito futebolístico aconteceu em 1925, ainda na era semi-profissional. Em seu quinto ano na modalidade, foi o campeão da Divisão do Interior, batendo na fase final a Francana; o Elvira, de Jacareí; o Rio Branco (então bi-campeão do torneio) e o Sorocabano. O título credenciou o Velo a participar da Taça Competência – considera pela A.P.E.A. como o título de campeão do estado –, contra o campeão da cidade de São Paulo, o São Bento. Na decisão, o clube azul e branco da capital, comandado por Feitiço, nome histórico do futebol paulista entre as décadas de 20 e 30, sagrou-se campeão.
Apesar da sua longa jornada, o Velo teve pouco protagonismo na era profissional. Em 1978, disputando a chamada Divisão Intermediária (equivalente à Série A-2), ficou com o vice-campeonato e enfrentou o Paulista, de Jundiaí, no confronto pelo acesso à Divisão Especial. Numa disputa em melhor de quatro jogos, empatou um e venceu dois pra subir à elite estadual pela primeira e única vez. Na Divisão Especial, caiu logo em 1979.
A Série A-2 foi onde o Rubro-Verde mais permaneceu ao longo do tempo, com 30 temporadas. Porém, está na A-3 desde 2018. Além disso, tem duas semifinais de Copa Paulista, em 2011 e 2012. Aliás, foi justamente o Noroeste o adversário da semi de 2012, quando o Alvirrubro de Bauru conseguiu um empate sem gols em Rio Claro, pra fazer 3 a 1 no Alfredo de Castilho, avançando à final, no seu último campeonato conquistado.
Atualidade
Nos dois anos desde o rebaixamento da Série A-2, o Velo sempre se manteve entre as oito melhores equipes do terceiro escalão estadual. Em 2019, um ótimo trabalho do técnico Karmino Colombini deu esperanças de um acesso, que não veio. Do time derrotado pelo Osasco Audax, cinco estão na equipe como titulares (o goleiro Filipe Garça, o zagueiro Léo Turbo, o lateral-esquerdo Janilson e os volantes Eurico e Niander), enquanto o veterano Alexandre Carvalho é opção para jogar na zaga ou como lateral defensivo.
O comando em 2020 também não é de Colombini, mas sim de Cléber Gaúcho. O ex-volante, de 46 anos, que teve destaque, principalmente, por Criciúma e Goiás nos tempos de jogador, tem sua trajetória como técnico mais ligada ao XV de Piracicaba, por onde passou em três ocasiões e conquistou a Copa Paulista de 2016. Chegou ao Velo para a pré-temporada de 2020, sendo um dos treinadores da A-3 que está no cargo desde o seu início – tal qual Luiz Carlos Martins, pelo Noroeste, e Renato Peixe, pelo EC São Bernardo.
Apesar de uma derrota para o Desportivo Brasil, na terceira rodada, o início da Série A-3 foi positivo para o Galo Vermelho. Com três vitórias e um empate, era o vice-líder da competição ao término da quinta partida. Porém, uma sequência com empates diante de Marília e Noroeste, além de derrota para o Capivariano, fez com que a equipe focasse de vez, e antes de mais nada, na classificação. Na retomada, apesar de perder para o Primavera no jogo da reestreia, garantiu o avanço com vitórias magras em seus domínios contra os rebaixados Grêmio Osasco e Paulista.
Na semifinal, encarou o Capivariano, talvez o algoz mais marcante da temporada, que o havia batido por 4 a 2 na fase classificatória. Aproveitando melhor suas oportunidades, venceu por 2 a 0 em casa, no Benitão. Vaga praticamente assegurada, principalmente pela experiência do grupo – com destaque para os atletas “calejados” pela eliminação em 2019. Em Santa Bárbara d’Oeste, segurou o empate em 0 a 0 pra garantir a passagem.
Características
Em toda Série A-3 2020, o Velo Clube é o único time que não sofreu gol do Noroeste. No encontro entre as equipes, em 1º de março, o placar ficou no 0 a 0. Daquele Rubro-Verde, apenas três mudanças aconteceram. O miolo de zaga foi reformulado, com a chegada de Diogo, que estava no Coimbra, de Minas Gerais, e o retorno de Léo Turbo, de volta de empréstimo junto ao Pouso Alegre. Alexandre, então titular, agora é alternativa no banco, quase sempre entrando no segundo tempo. Principalmente quando há a necessidade de segurar um resultado positivo.
A qualidade defensiva segue como destaque do Velão após a retomada da A-3. Em seis partidas, foram apenas dois gols sofridos. O primeiro, contra o Primavera, aconteceu a partir de uma falha na saída de bola pelo meio-campo, levando a um contragolpe do clube de Indaiatuba, com a defesa do Galo desorganizada. Já o segundo ocorreu no finalzinho do jogo contra o Batatais, numa bola longa atrás da defesa pelo lado direito. Apesar desses dois erros, o Velo trabalha geralmente com uma defesa bastante volumosa.
Pelo centro, é muito difícil de encontrar espaço, pois os veteranos Niander e Eurico protegem bem a entrada da grande área. Além disso, os jogadores de lado, Paranhos (pela direita) e Igor Eto’o (pela esquerda) fazem um trabalho defensivo entre as intermediárias. A dupla aparece desde a pressão na saída de bola adversária, juntamente com Felipinho e Lucas Duni, até o acompanhamento das descidas dos laterais. Assim, é complicado explorar espaços na defesa velista quando ela está devidamente postada.
Quando há alguma desorganização defensiva, a tendência do Velo é a de cometer faltas, pra parar o lance. Isso comumente ocorre quando há algum erro entre a intermediária de ataque e o meio-campo, embora algumas vezes as infrações cometidas aconteçam em lances sem tanta obrigação de parada, ocasionando, inclusive, cartões amarelos sem necessidade. Niander, por exemplo, recebeu um em cada partida contra o Capivariano e chega pendurado para a primeira partida da semifinal.
Com a bola nos pés, o Velo tem sua saída de jogo com os dois volantes, principalmente com o capitão Niander. Porém, falta maior agilidade nesse jogo de posse, levando a equipe a optar pela verticalização das jogadas. Pela esquerda, Igor Eto’o se destaca como um jogador de velocidade, boa alternativa para o jogo vertical. Já o meia pela direita, Paranhos, tem mais altura e força, acompanhando principalmente a movimentação de Everton, o lateral-direito, e do meia-atacante Felipinho.
Felipinho é o camisa 10 e jogador com maior capacidade de drible do time. Ele aparece bastante no meio-campo, mas também joga próximo do atacante, Lucas Duni, fazendo as vezes de segundo atacante em determinados momentos. Com cinco gols na A-3, Duni chegou à titularidade justamente no jogo contra o Noroeste e só ficou de fora de uma partida desde então. Destaca-se pelo bom posicionamento, que o levou a balançar as redes. Contudo, fecha um quarteto de jogadores de frente com pouca idade – ele, com 24; Felipinho, com 22; Eto’o, com 21; Paranhos, com 25. Assim, o quesito experiência fica mesmo por conta do setor defensivo.
Diante do Capivariano, o time comandado por Cléber Gaúcho tirou proveito da desorganização defensiva adversária. Nos dois gols marcados em Rio Claro, foi aproveitada a sobra de bola no ataque. No primeiro tento, com Niander e Eurico avançados, o capitão encontrou bom passe pra Paranhos bater cruzado e abrir o placar. No segundo, não foi em si uma sobra, mas um cruzamento (novamente com Niander) em que o lateral Everton desviou para o meio da grande área, onde Duni apareceu livre pra estufar a rede.
Noroeste x Velo Clube – Pontos fortes e pontos fracos
O discurso do Velo é o de que o favoritismo está do lado noroestino. Mas sabemos que uma disputa em mata-mata costuma refutar aspectos favoráveis antes de a bola rolar. Para o Rubro-Verde, o jogo da ida, no Benitão, às 17h deste sábado, será de grande importância na briga pelo acesso. É possível que o Velo ceda maior posse de bola para o Noroeste, pensando num jogo mais vertical e, claro, numa possível dificuldade alvirrubra frente à sua defesa.
Contudo, o time do técnico Luiz Carlos Martins soube como superar um time mais recuado – no caso, o Nacional, no Alfredão. O time do Norusca do segundo tempo no último sábado, com Leléco atuando mais como um meia/ponta esquerda, junto com Igor Pimenta e Richarlyson (depois Yamada), deu mais volume ao ataque. Repetir tal formação pode ser positiva para o Noroeste, pensando especialmente no jogo em Rio Claro, a fim de garantir mobilidade a partir da intermediária ofensiva.
A cobertura aos laterais também vai ser decisiva. Com a possibilidade de Carlinhos começar o jogo no Alvirrubro, com Matheus Blade como volante, dá mais presença de ataque aos noroestinos, mas pode dar espaço a Igor Eto’o e Felipinho para o Velo. Principalmente se a defesa rubro-verde conseguir manter a solidez, além de não bobear na saída de jogo.
Por fim, os confrontos das semifinais colocam frente a frente dois dos melhores goleiros da competição. Se Pablo brilhou na disputa por pênaltis diante do Nacional, ao defender uma das cobranças, o “guapo” velista não fica pra trás: desde a retomada, Filipe Garça pegou pênalti contra o Batatais e contra o Capivariano, no jogo da volta. Aos 28 anos e formado no São Paulo, Pablo tem no Noroeste a possibilidade de retornar à A-2, onde esteve em 2018, como goleiro reserva do Água Santa. Já Filipe, de 24, cria do Santos e campeão da Bezinha 2016 com a Portuguesa Santista, pode conseguir um salto importante na carreira com o acesso.
No geral, dá até pra dizer que o Velo Clube não seria um adversário tão perigoso ao Noroeste em comparação ao próprio Nacional, ao menos com relação às ideias de jogo. Porém, o acesso de um ou de outro time só acontecerá se os planejamentos forem colocados devidamente em prática. Neste duelo de estratégias, o campo vai decidir quem vai ascender à Série A-2 em 2021.
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