DOSSIÊ NACIONAL
Conheça o adversário do Noroeste nas quartas da Série A-3
Por Fabio Toledo
Quis o destino que o caminho do Noroeste em busca do acesso para a Série A-2 passe pelo Estádio Nicolau Alayon. O campo da rua Comendador Souza, na capital paulista, foi palco da última conquista alvirrubra, a Copa Paulista de 2012, quando o Norusca bateu o Audax. Agora, em 2020, o adversário é justamente o dono da casa, o Nacional. Embora há anos longe dos holofotes, o Naça tem uma grande história e promete ser um desafiante ao líder da primeira fase da A-3, em um legítimo duelo entre ferroviários.
Pitadinha histórica
A história do início do futebol no Brasil e do Nacional se confundem. Afinal de contas, o clube paulistano surgiu de um grupo de funcionários da São Paulo Railway, companhia inglesa que tinha a concessão das operações da linha férrea no Estado de São Paulo no final do século XIX. A primeira partida oficial de futebol no Brasil aconteceu entre os funcionários de tal empresa contra os da São Paulo Gaz Company (também de origem inglesa). Pela São Paulo Railway, jogou Charles Miller, considerado o responsável por trazer o futebol ao país.
Os funcionários dessa mesma companhia ferroviária fundaram um grêmio futebolístico, disputando jogos e competições locais entre Santos e Jundiaí. Até que, em 16 de fevereiro de 1919, criaram, na capital paulista, o São Paulo Railway Athletic Club, abraçado tanto pela colônia inglesa residente na cidade, como pelos trabalhadores da empresa. Foi o herdeiro da torcida do antigo São Paulo Athletic (SPAC), que abandonou o futebol com os primeiros sopros do profissionalismo. Como São Paulo Railway, o Ferrinho disputou o Campeonato Paulista entre as décadas de 20 e 40, obtendo como colocação máxima um quarto lugar, em 1939.
A mudança de nome aconteceu em 1946. Foi quando a concessão da São Paulo Railway na administração ferroviária terminou e acabou nacionalizada pelo governo. O nome do clube de futebol também acabou, literalmente, nacionalizado. Surgiu então o Nacional Atlético Clube, de poucas marcas na elite estadual, mas com conquistas históricas na Copa São Paulo de Futebol Júnior (2 títulos), além de um tricampeonato na Série A-3 e uma conquista da Bezinha estadual.
Atualidade
Por outro lado, o ano do Centenário do Nacional, 2019, foi marcado pelo rebaixamento para a Série A-3. Pensando nesse retorno ao segundo escalão do Estado de São Paulo, o Naça trouxe de volta ao clube o técnico Tuca Guimarães, responsável pela equipe campeã da A-3 em 2017. Com um início razoável de campeonato, o Ferrinho não perdia, mas também não conseguia vencer. Assim, os quatro empates e apenas uma vitória em cinco jogos deixavam o Nacional em 9º.
Foi ali, pelo meio da tabela, que o time se manteve até o final da primeira fase. Porém, após a parada do futebol devido à pandemia do novo coronavírus, o desempenho do Naça foi superior ao dos adversários diretos. Assim como no começo da competição, o recomeço foi com invencibilidade, mas dois empates. Já nos dois confrontos decisivos, das últimas rodadas, o Nacional conseguiu dois triunfos importantes, pra garantir a oitava posição e a última vaga para as quartas de final.
Características
O encontro entre Noroeste e Nacional na primeira fase aconteceu no longínquo dia 22 de fevereiro, na sétima rodada. O jogo, que terminou com vitória noroestina por 2 a 0, também marcou a entrada de Matheus Blade na lateral-direita e Rogério Maranhão como volante. Foi de Blade a jogada para o gol de cabeça marcado por Fabrício Daniel, enquanto que Maranhão fez ele próprio o belo tento que consolidou o triunfo noroestino. Só que muita coisa mudou no Nacional de lá pra cá.
Daqueles que entraram em campo pelo Naça em Alfredo de Castilho, seguem entre os titulares do time comandado por Tuca apenas o lateral-direito Alanderson, o zagueiro Gabriel Moreira, o lateral-esquerdo Ricardinho – o qual jogou mais à frente contra o Noroeste –, além do volante André Rocha. Ainda assim, alguns aspectos são peculiares ao trabalho de Tuca Guimarães no clube da capital, agora mais desenvolvido em comparação ao último encontro com o Norusca.
Como é característico, o Nacional tem um bom desempenho quando tem maior posse de bola. A saída de jogo, a partir da defesa, conta com importante participação dos volantes, Gabriel Vieira ou André Rocha, recuando entre os zagueiros pra permitir o avanço dos laterais. É dos pés de André que saem os passes de maior qualidade. O experiente volante, de 36 anos, tem passagem por Athletico Paranaense, Vasco, futebol estadunidense e grego. Inclusive, jogou pelo Noroeste em 2018 e tem papel fundamental no jogo de Tuca Guimarães. Trabalha na saída de bola, organiza o meio-campo, é o responsável pelas cobranças de bolas paradas, chuta de fora da área e tem a braçadeira de capitão.
Por conta desses dois volantes, a equipe também possui certo volume defensivo pelo centro. Ao mesmo tempo, não deixa a desejar na cobertura pelos lados. Isso porque os dois homens de lado e aproximação ao ataque – Lucas Campos, pela direita, e Wellington, pela esquerda – auxiliam os laterais na composição. Fechando a trinca, pelo meio, tem Guilherme Lobo, meia de criação e que chega bem à frente. Não à toa foi o autor dos dois gols do Nacional contra o Primavera, na última rodada.
Na referência ofensiva, está Tavares. O atacante ganhou destaque pelo Atibaia na A-3 de 2018 e, antes da paralisação, defendeu o Pouso Alegre no Módulo II do Campeonato Mineiro. Chegou ao Nacional para substituir Gustavo Índio, atacante emprestado pelo Coritiba, que tinha quatro gols e acabou indo para o São Luiz disputar a Série D do Brasileiro. Em quatro jogos, Tavares fez dois gols, mas também se destacou pela mobilidade.
Embora o Nacional tenha como característica importante a posse de bola, também possui condições para verticalizar o jogo quando possível. Pra isso, conta com a dupla Lucas Campos e Wellington, além de dois outros jogadores que costumam entrar no decorrer das partidas: Juan e Vinícius Faria. Com relação às alternativas costumeiras vindas do banco, uma delas terá que começar o jogo diante do Noroeste. Afinal, o lateral-esquerdo Ricardinho, suspenso pelo terceiro cartão amarelo, será desfalque. Em seu lugar, deve jogar Matheus Barros, o qual atuava no futebol sergipano antes da paralisação.
Depois de todos esses elementos referidos sobre o Nacional, faltou o principal destaque da equipe nesta retomada. Sem dúvida, o goleiro Douglas foi fundamental para o Naça atingir seus objetivos até aqui. O veterano Luis Henrique, então dono da meta, foi para o Nova Iguaçu, no futebol carioca, enquanto Douglas veio justamente daquele estado, depois de defender o Madureira no Campeonato Carioca. Em quatro jogos pelo Ferrinho, teve presença decisiva em pelo menos três resultados, chegando a pegar pênalti e manter o 0 a 0 contra o vice-líder, EC São Bernardo.
Noroeste x Nacional – pontos fortes e pontos fracos
Por mais que o Norusca tenha feito uma campanha bem melhor que a do Nacional, existem aspectos favoráveis tanto pra uma, quanto pra outra equipe. Do lado do Ferrinho, a maior posse de bola favorece o seu jogo. A presença de André Rocha, Guilherme Lobo e Wellington dão qualidade criativa à equipe. Além disso, o avanço dos laterais garantem amplitude aos ataques, sem perder volume pelo centro. Já o Norusca, quando teve jogos com maior posse, encontrou mais dificuldades para criar – levando em conta as partidas após a retomada, principalmente.
Isso porque um dos destaques do time comandado por Luiz Carlos Martins é a velocidade do seu ataque. Um dos segredos para o sucesso alvirrubro é buscar o gol cedo, a fim de ter mais espaço para contragolpes, com seus bons lançadores e atacantes rápidos e com certa força física. É justamente esse aspecto do jogo noroestino um grande perigo para o Nacional. Vai ser necessário ao clube da capital um trabalho de cobertura para as descidas dos laterais, uma vez que o Noroeste conta com dois atacantes que podem explorar bastante esses avanços.
Outro fator que pode ser decisivo é o comportamento das equipes nas saídas de jogo. Com a linha de frente que possui, o Norusca pode conseguir alguma coisa ao pressionar o passe da defesa do Naça. Embora a equipe tenha uma saída organizada, o Noroeste tem volume ofensivo (Fidel, Pedro, Richarlyson e Igor Pimenta) pra dificultar essa ação. O que também obrigaria uma maior verticalização do jogo, podendo favorecer a defesa noroestina.
Ainda assim, existem dois desafios maiores para o Nacional. O primeiro deles é superar a defesa adversária. Depois de falhar na derrota para o Comercial, o Noroeste voltou a ter maior segurança de seus defensores, com uma ótima cobertura dos volantes. Pelo meio, vai ser complicado entrar. A saída, pelos lados, vai obrigar o ataque a bater uma dupla de zaga vacinada contra jogo aéreo. Pode restar ao Naça os chutes de fora da área, ou dar a bola ao adversário e tentar surpreendê-lo com seu próprio remédio: a velocidade e o jogo vertical.
Por fim, o ponto fundamental será a qualidade da bola parada. Nos quatro jogos anteriores, o maior problema da defesa do Ferrinho foi o jogo aéreo. A derrota para o EC São Bernardo não veio a partir disso por detalhe. O Rio Preto, equipe quase inoperante nesse quesito, teve inúmeras oportunidades, até fazer um gol de cabeça, ainda que insuficiente. Em meio às dificuldades demonstradas pelo ataque noroestino em balançar as redes, o jogo aéreo ofensivo, principalmente com os zagueiros Jean Pierre e Guilherme Teixeira, será de grande importância.
Os dois confrontos entre Noroeste e Nacional prometem ser de qualidade. De um lado, o time de maior regularidade da primeira fase, que passou por algumas mudanças, mas manteve boa parte do elenco e vem com um grupo experiente e talentoso. De outro, uma equipe mediana ao longo de 15 jogos, mas que mostrou fibra ao vencer duelos decisivos na reta final. Quem vai levar a melhor? Saberemos nas próximas duas semanas.
- VIA
- Fabio Toledo
- TAGS
- Bauru e Interior
- Fabio Toledo
- Futebol
- LE
- Noroeste
- Paulista A3
Deixe seu comentário