A MURALHA DO TÍTULO
Goleiro Walter fala da importância da conquista da Copa Paulista pelo Noroeste, em 2012
Por Gustavo Abraão
No dia 25 de novembro, completaram-se cinco anos do último título do Noroeste. Há meia década, o clube bauruense levantou a taça de campeão da Copa Paulista, assegurando participação na Copa do Brasil da temporada 2013. Um do grandes destaques daquele torneio foi Walter, atualmente no Corinthians. Quando chegou à Cidade Sem Limites, porém, era simplesmente o goleiro rebaixado com o XV de Jaú. Nas linhas abaixo, o arqueiro fala da carreira, conta um pouco das dificuldades em trabalhar no lado menos glamouroso do futebol, traz revelações sobre os bastidores daquela conquista e muito mais. Confira!
LE – Você chegou ao Noroeste após o rebaixamento do rival XV de Jaú para a quarta divisão do Campeonato Paulista. Acha que esses dois fatores, somado ao fato de que colocou o Nicolas, titular durante o quase acesso na A2, no banco, colocaram grande pressão em você quando assumiu a titularidade?
Walter – Sim. Até quem foi ver vários jogos meus no XV foi o João (Gonçalves, gerente de futebol) e também o Luciano (Sato), que era auxiliar do Amauri Knevitz na época. Acabei dando sorte, eles foram em vários jogos que eu fui bem, pegaram partidas boas minhas. E eu sabia que tinha o Nicolas, que tinha o William, tinha o Yuri, um grande amigo, e que eles estavam lá há um tempinho. E o Nicolas é um baita goleiro, vi alguns jogos dele antes de ir pra lá, quando estava sabendo que poderia ir pra lá, vi o finalzinho da A2 dele. Um baita goleiro. Só que o Amauri Knevitz já conhecia meu trabalho desde os tempos de J.Malucelli – na época, Corinthians Paranaense -, acabou entrando em contato e acertamos. Deu tudo certo, consegui fazer um grande trabalho. Claro que a pressão era muito grande, tinha caído pra última divisão com o XV de Jaú e estava chegando em um clube acostumado a lutar pra subir pro Paulistão. E era muita pressão realmente, eu sendo de Jaú e tem toda aquela rivalidade que é legal de ver entre eles. Mas eu fiquei muito feliz por ter entrado e ter dado conta do recado.
LE – A campanha começou bem instável, tanto que o Amauri Knevitz acabou caindo após a derrota no clássico com o Marília, na 10ª rodada. Essa mudança de comando, como vocês encararam? Como ficou o vestiário depois da derrota no clássico, aumentou muito a pressão?
Walter – A gente confiava muito no trabalho do Amauri e acreditava na ideia dele, tanto que permanecemos com ela. Mas, infelizmente, a gente sabe que precisa de resultado, ainda mais em clássico. A gente empatava muito jogo, perdia um joguinho ou outro, mas a classificação estava engatilhada, já que passava muito time, estávamos no bolo de cima. Na sequência, vencemos o América em Rio Preto, jogo dificílimo, e o Moisés acabou entrando. A gente sabia que poderia ganhar o título, tinha noção de que tinha elenco pra isso. O elenco foi formado pra isso, pra ser campeão. Mas essas turbulências deixaram a gente bastante chateado, ainda mais no clássico, que é o tipo de partida que a gente tinha que ganhar. A gente gostava muito do professor Amauri, um cara muito especial, muito do bem, muito correto. Eu até brinco que a ideia dele e do Tite são muito parecidas, de trazer o jogador pra eles, conversando, com muita transparência, são muito honestos com as pessoas. Eu converso com o Amauri até hoje, então, a tristeza pela saída dele foi bem grande, mas a gente sabia que tinha que tirar forças e buscar vencer.
LE – Na sequência, faltando poucas rodadas para o fim da primeira fase, o Luciano Sato comandou a equipe em uma rodada, e chegou o Egert. Com o Moisés, o time acabaria perdendo só mais uma partida, na segunda fase, que ainda foi de grupos. Qual foi a importância do novo técnico no título? Por que o time cresceu tanto na reta final?
Walter – O que ele trouxe foi muita motivação. Ele é um cara muito motivado, um cara novo. Apesar da idade, já tinha um currículo vitorioso pelo XV de Piracicaba. Então, ele sabia muito dessa questão de motivação. No vestiário, entrou, já sabia quem era quem, o que precisava pra tirar um pouco mais da gente, principalmente em motivação, porque qualidade o time tinha de sobra, tinha vários jogadores que poderiam estar em qualquer time grande até hoje. Então, foi mais essa questão da motivação mesmo, que a gente acatou e conseguiu resultado positivo atrás do outro.
LE – Nos dois mata-matas até a final, o time soube usar bem o regulamento, que dava vantagem ao time de melhor campanha, e o fator casa, já que eliminou Capivariano e Velo em Bauru. Qual foi a importância deste regulamento e de decidir no Alfredão?
Walter – Contra o Capivariano, acho que falhei em um dos gols. Jogamos com o regulamento debaixo do braço, claro, e foram baita jogos. Contra o Velo, lá em Rio Claro, foi bastante difícil, jogo à noite, a iluminação é bastante precária. Mas contra o Capivariano foi mais chato, não que com o Velo tenha sido fácil, pelo contrário, os adversários são sempre complicados.
LE – A final foi a única eliminatória do qual o Norusca saiu vencedor em ambos os jogos. A decisão diante do Audax acabou sendo mais fácil do que o imaginado?
Walter – Não, eu acho que a gente encaixou bem naqueles jogos contra o Audax. Acredito que o primeiro jogo foi primordial pra nós. A gente sabia que precisava vencer, vencer fazendo vários gols porque sabia que ia ser muito difícil em São Paulo, ainda mais pelo estilo de jogo que eles tinham e têm até hoje… toca pra lá, goleiro se mexe e sai jogando, inclusive o goleiro deles era o Sidão, que sabe usar muito bem os pés. O técnico deles era o Antônio Carlos, mas já tinha essa ideia de toque de bola. O time deles tinha esse DNA. Era impressionante. Então, a gente sabia que em casa tinha que fazer o resultado. O apoio da torcida naquele dia foi imenso, tava tudo lotado. O segundo, aqui em São Paulo, foi mais tenso pra eles, porque precisavam sair pro jogo, então, ia abrir mais brecha pra nós. Até acabei fazendo uma defesa no começo do jogo, a bola bateu na minha cara. Depois, saímos e conseguimos fazer o gol da vitória. Mas o legal do Audax é que eles seguem a mesma essência, já faz cinco anos e eles continuam com a mesma ideia.
LE – Ainda sobre a final. O Norusca praticamente jogou as duas partidas em casa, o confronto no Nicolau Alayon teve mais de 1700 pessoas, a maioria esmagadora de alvirrubros. Qual foi a importância da torcida nesses duelos e na campanha mesmo? Impressionou aquilo?
Walter – O legal foi que até fizeram ônibus pra levar as esposas dos jogadores… mas foi uma baita de uma emoção. Até por eu ter caído com o XV de Jaú e, pouco depois, ver uma torcida rival aplaudindo a gente e fazendo aquela festa toda, a gente ficou de cara mesmo. No segundo jogo, quando saímos pra aquecer, olhou e pensou: ‘não é possível que esses caras vieram tudo pra cá’. Vieram muitos ônibus lotados e, graças a Deus, a festa foi completa. Conseguimos a vitória e as coisas abriram ainda mais depois disso.
LE – Durante o torneio, a família Garcia deixou o clube após comandar o Noroeste por vários anos. Esse tipo de assunto chega ao vestiário? Atrapalha? Ou é irrelevante, vocês não ligam muito pra isso e querem mais saber do que acontece dentro de campo?
Walter – Chegou até a gente, sim. Até me lembro, era jogo contra o Paulista, segunda fase, e chegou até nós que eles não iam mais tocar o clube. Só que eles pagaram adiantado os salários, até o que era pra receber só mais pra frente. A gente até assustou, tinham acabado de pagar um. E estávamos preocupados, tinha gente que já estava com contrato assinado pra jogar o Paulista da A2. Infelizmente, acabei não ficando. Mas teve um fato que aconteceu em uma reunião, mas não vou lembrar o jogador que falou o seguinte: “ruim seria se eles não tivessem pago e a gente continuasse jogando. Mas não, pagaram adiantado, vamos jogar bola e pensar na questão financeira só no ano que vem”. Porque isso era quase meio de outubro, o torneio ia até o final de novembro. Então, foi isso, seguimos batalhando, deixamos o barco tocando e pensamos “vamos conseguir esse título”. Dali, até acho que deu um empurrão a mais. eles foram perfeitos com a gente, deram essa garantia. Graças a Deus, conseguimos esse título que foi memorável.
LE – Qual foi a importância, qual o peso daquele título na sua carreira?
Walter – Muito importante. Dali, fui para um time de primeira divisão, claro, de menos expressão, mas eu acabei indo com o Moisés Egert pro União Barbarense. Ou seja, ele veio pro Noroeste, não me conhecia, gostou. Quando estava na reta final do torneio, ele já estava acertado, até porque é nessa época que as coisas se acertam. Então, foi bom, mostrei meu trabalho pra ele, fomos campeões, o que dá mais moral com o técnico. Ele ainda levou outros jogadores com quem tinha confiança. E isso abre portas, acabei jogando o Paulistão.
LE – Depois do título, você acabou indo pro União Barbarense disputar o Paulistão. Jogou 18 vezes na campanha do rebaixamento, tomou 27 gols, média de 1,5 gol sofrido por rodada. Além disso, diante do Corinthians, perdeu de 3 a 0. Acha que foi contratado mais pelas atuações pelo Norusca do que pelo próprio time de Santa Bárbara?
Walter – É, a média no Paulistão foi altíssima, pensando no título com o Noroeste, tem a ver. Mas números não resumem tudo, ainda mais para goleiro. Não que o time fosse fraco, a gente nunca pode dizer uma coisa dessas, menosprezar o atleta ou qualquer coisa assim. Então, eu acho que o goleiro é muito individual. Se o time não está bem, mas o goleiro está fazendo de tudo, pega bola, defende um pênalti, faz isso, faz aquilo, dá pra saber que ali pode ter um potencial que a gente não viu antes. Mas claro que o Noroeste ajudou muito nessa questão, porque eu estava ferrado, dois anos caindo, pelo menos tinha o título no meio.
LE – Seguindo nessa questão, o XV de Jaú cai na A3 em abril de 2012, no fim daquele ano, você ganha a Copa Paulista, mas, logo na sequência, cai com o União. Isso tudo dá mais ou menos um ano. Mesmo assim, acaba indo pro então campeão mundial. Como é essa mudança na prática? O jogador está preparado ou vai se acostumando aos poucos, no dia-a-dia?
Walter – Essa pergunta é boa, até difícil de responder. As coisas vão acontecendo, você não se dá conta. E eu até acabei jogando aqui no Corinthians, em 2013. Eu cheguei, deu pouco tempo, teve a preparação para a Recopa, eu já estava com o elenco. Fomos campeões. Aquele título da Recopa, comemorei muito, como se tivesse jogado… até porque, caí dois anos, teve o Noroeste… mas você é bombardeado. Mesmo não tendo nome, você é bombardeado: “como pode contratar um cara que caiu dois anos e está aqui no Corinthians?” E o título da Copa Paulista é menos valorizado que uma conquista de A2 ou de A3, apesar de ajudar muito. Ajuda muito o clube, porque pegava uma vaga na Copa do Brasil. Mas eu ainda não parei pra pensar. Se eu parar, só agradeço a Deus por estar nesse momento. Aqui no Corinthians, ainda joguei Copa do Brasil e reta final daquele Brasileirão, fiz meu trabalho, fiz tudo aquilo que treinei, e as coisas caminharam bem.
LE – Você é natural de Jaú, jogou no XV, no Noroeste, no União, enfim, conhece bem o futebol do interior do estado, que vive uma realidade totalmente diferente quando comparado aos times grandes. O que você acha desse enxugamento cada vez maior dos campeonatos paulistas? Há alguma coisa que a Federação ou a CBF possa fazer para mudar o cenário de campeonatos cada vez menos interessantes para o público? Além disso, tem a questão da empregabilidade, já que muitos atletas atuam por somente 3 meses…
Walter – Essa questão do enxugamento, a gente não sabe muito bem de onde vem isso. Mas eu, por exemplo, trabalhei cinco anos no Paraná, só Paranaense. Vez ou outra, no final do ano, disputávamos a copa. Mas é só gasto pro clube, mesmo que invista, não tem retorno… trabalhei aqui no interior, também no Rio Grande do Sul, e muitas vezes são só quatro meses. Muitas vezes, nem recebe esses meses. Convivi com problemas de salário no União Barbarense; XV de Jaú atrasou um pouco, mas pagou; Noroeste me pagou tudo certo também. Graças a Deus, não tive tanto problema com isso. Mas, se você tira os grandes do estadual, diminui ainda mais o interesse. A gente precisa ver uma fórmula de agregar a todos ao mesmo tempo. O ideal seria um torneio mais longo para os ditos pequenos, mas a gente não sabe qual a dificuldade de fazer isso. A gente é meio leigo no assunto pra poder falar um pouco mais.
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