VEIAS ABERTAS DO FUTEBOL LATINO – 2ª TEMPORADA (PARTE 6)
Os tentáculos do narcotráfico no futebol mexicano
Por Fabio Toledo
Mundo afora
Depois de duas temporadas do Veias Abertas do Futebol Latino abordando a relação dos narcos com o futebol, já não há dúvidas de que o esporte bretão – mais precisamente, a forma como é organizado – é um espaço bastante produtivo para a lavagem dos milhões de dólares obtidos com o tráfico de drogas. Ainda mais com a supervalorização dos jogadores na última década.
As transações internacionais milionárias até podem ser seguras na maioria das vezes, por conta do monitoramento da FIFA e da UEFA, nos casos de transferências para o futebol europeu, mas ainda assim os criminosos encontram vias para legalizarem seus lucros. Para aproveitar essa oportunidade, mexicanos e colombianos foram para a Europa e criaram redes internacionais de lavagem de dinheiro.
Os tentáculos do narcotráfico no futebol, como é o título desse especial, possui ramificações e pontos de convergência. Nomes que você já conheceu em partes anteriores estarão de volta nos parágrafos a seguir. Não se assuste, você não está andando em círculos, é apenas um crossover – famoso na ficção, mas também bastante comum no cenário real do narcotráfico.
Promotora Internacional Fut Soccer
Para dar sequência a esta sexta parte do especial, voltamos à primeira. Retornamos a meados de julho de 2003, com a prisão do ex-jogador colombiano Carlos Álvarez no Aeroporto Internacional da Cidade do México, quando tudo não se passava de um mero fato isolado. Natural de Medellín, Álvarez passou por grandes equipes da Colômbia – Independiente Medellín, Deportivo Cali e Millonarios –, até chegar ao Necaxa, no México, sua primeira e única experiência internacional.
No início da era dos empresários representantes de jogadores de futebol, enquanto atleta, Álvarez foi representado pela Promotora Internacional Fut Soccer. Qual a importância desta informação? Relembramos a segunda parte de nosso especial, de Tirso Martínez Sánchez, “El Futbolista”. O homem, que teve US$5 milhões oferecidos pelo FBI por informações sobre seu paradeiro, foi apontado por uma testemunha nos EUA como cabeça de uma rede de narcos que lavava dinheiro transferindo jogadores colombianos pelo mundo. Esta rede estaria associada com a Promotora Internacional Fut Soccer.
O dono da empresa, que possuía atletas tanto na Colômbia como no México, era o colombiano Guillermo Lara. Por ventura, Lara também representava o atacante Jackson Martínez, o qual se transferiu do Jaguares de Chiapas para o Porto, de Portugal. Na negociação, documentada pelo clube português, aparece também o Grupo Comercializador Cónclave, de Rodolfo David Dávila Córdova, nada mais do que o operador financeiro do Cartel de Juárez. Além da transação de Jackson Martínez ao Porto intermediada pelo Grupo Cónclave, mais movimentações do tipo podem ter sido feitas.
Guillermo Lara
O nome do empresário colombiano e de sua empresa de representação de atletas vinculados ao narcotráfico talvez não tenha surpreendido muita gente no México e na Colômbia. Isso porque Guillermo Lara vem sendo investigado desde o início do século por supostos envolvimentos com organizações criminosas.
Em 2001, por exemplo, a Procuradoria Geral da Colômbia investigou Lara e sua empresa por um possível envolvimento com Jorge Mario Ríos Laverde, traficante colombiano preso nos Estados Unidos. Na ocasião de sua prisão, Laverde estava em uma BMW pertencente ao empresário.
Lembra da captura dos líderes do Cartel do Norte do Vale, Juan Carlos Abadia e Diego León Montoya Sánchez? Entre os documentos encontrados, que revelavam pagamentos a clubes mexicanos e empresários, estava o nome de Guillermo Lara. De acordo com as informações levantadas com a apreensão das planilhas de pagamento, Lara chegou a receber um milhão e 200 mil dólares.
Em resposta, o empresário falou que a acusação era uma mentira. Porém, sua empresa entrou para a Lista Clinton – elaborada pelo Departamento do Tesouro dos EUA, com pessoas e empresas financeiramente vinculadas ao narcotráfico – e ele se tornou persona non grata para o futebol nacional, em decreto da Federação Mexicana de Futebol. Ainda assim, isso não o impediu de fazer parte de negociações de amistosos da seleção tricolor, em 2011.
Colômbia, México e Espanha
Não é só de Guillermo Lara e Promotora Internacional Fut Soccer que se faz a relação de narcos de Colômbia e México com o outro lado do Atlântico. Os tentáculos do tráfico de drogas são longos, envolvendo figuras do futebol por aqui e também por lá.
José Luis Caminero se acostumou a vestir terno após sua carreira de quase duas décadas como jogador de futebol profissional. Certamente por assumir as funções diretivas do Atlético de Madrid em 2011 e, no meio de 2018, do Málaga. No entanto, em outubro, vestiu o terno para enfrentar o banco dos réus.
Revelado pelo Real Madrid, Caminero teve passagens marcantes por Valladolid e Atlético de Madrid. Seu desempenho o levou à seleção espanhola, chegando a marcar três gols na Copa de 1994. Conviveu nos vestiários com grandes nomes do futebol colombiano, como “El Pibe” Valderrama, Leonel Álvarez e René Higuita. Mas outro grupo de colombianos o fez entrar no mundo do crime.
Em 2008, o ex-meia foi capturado pela polícia madrilenha com 58.500 euros em seu carro. O dinheiro faria parte de um esquema de lavagem envolvendo narcotraficantes da Colômbia, México e Espanha. Entre idas e vindas, o caso de Caminero seguiu na Corte espanhola por uma década, até que o julgamento enfim foi marcado, para outubro de 2018.
Em seu depoimento, Caminero admitiu ter feito parte de tal rede criminosa. O pedido inicial da promotoria era de quatro anos de prisão para ele. Porém, a pena foi reduzida para quatro meses e pagamento de uma multa de 17.237 euros, pois se chegou à conclusão de que muitos dos elementos da rede não sabiam da origem ilegal do dinheiro. Os advogados de Caminero lutam agora para sua pena de prisão também ser transformada em multa.
Se um ex-jogador espanhol, na Espanha, acabou se envolvendo em uma rede internacional de narcos mexicanos e colombianos, o que dirá então da possibilidade de atletas desses países no meio? Nos últimos tempos, o México – e o mundo – descobriu que a ligação muitas vezes pode ser próxima e até mesmo interferir na história de alguém de um tamanho enorme no esporte do país.
México em música
Já apresentamos cinco gêneros musicais criados no México. Chegou o momento de falar de um que veio de fora, mas encontrou no país um lar “hermoso”. O Bolero tem sua origem na ilha de Cuba, por volta de 1840. Pela proximidade, o ritmo se propagou pelo Caribe e chegou também no México, mais precisamente nas regiões de Mérida e Cancún, no extremo sudeste. O Bolero se deu tão bem por lá que o desenvolvimento do Bolero Mexicano influenciou posteriormente o Bolero Cubano.
Sucesso no período inicial do sucesso das rádios e da era de ouro do cinema mexicano (de 1940 a 1970), o Bolero do país apresenta clássicos da música, como Besame Mucho, de Consuelo Vellázquez, e Solamente una Vez, de Agustín Lara. O gênero, característico pelo piano, bongô, guiro e trompete, ainda encontrou no México a música Ranchera, criando o subgênero Bolero Ranchero. Apesar de ter passado por um período de decadência, o ritmo vem renovando seu público, com intérpretes dando uma cara nova ao gênero.
- VIA
- Fabio Toledo
- TAGS
- Fabio Toledo
- Futebol
- LE
- Veias Abertas
Deixe seu comentário