LE ENTREVISTA – MOISÉS EGERT
Batemos um papo com o treinador que conquistou o título da Copa Paulista pelo Noroeste
Por Fabio Toledo e Gustavo Abraão
Após uma oscilação na primeira fase da Copa Paulista 2012, a diretoria do Noroeste optou pela demissão do técnico Amauri Knevitz. Para seu lugar, foi contratado Moisés Egert, um treinador de nível Série A1, com passagem marcante pelo XV de Piracicaba. Caso pensasse em dar segmento ao projeto, o Norusca teria à sua disposição um grande nome para comandar seu elenco, mas a saída da família Garcia do comando do clube colocou tudo abaixo.
Ainda assim, motivado pelo compromisso da diretoria e do bom controle do vestiário por parte de Egert, o Norusca manteve um bom nível de jogo, seguiu fazendo os resultados e alcançou a grande final. Após o triunfo por 2 a 1 no Alfredão, a decisão na capital paulista deu o título ao Alvirrubro. Cinco anos depois, em conversa com a LE, Moisés Egert relembra sua passagem por Bauru e a importância do troféu para seu futuro como treinador.
LE: Qual a dificuldade de chegar com o campeonato em andamento, ainda mais após o antigo treinador ter sido demitido após derrota em clássico?
Moisés Egert: Eu penso que futebol existe início, meio e fim. E que seja um fim bom para todos, tendo o tempo necessário para que consiga fazer um bom trabalho. Tem que existir isso para um treinador e brigo por isso. Infelizmente, a cultura do nosso futebol nem sempre é assim e a gente tem que se adaptar, muitas vezes, com o que se tem na mão. Não é o ideal, mas é a realidade, para fazer com que as coisas aconteçam e, principalmente na nossa categoria de treinador, com que ganhe jogos. Houve o convite pra mim, sempre é chato quando algum treinador é demitido e a gente entra no lugar, mas faz parte, é necessário. Era uma necessidade minha também.
Lembro que, depois da derrota no clássico, teve uma vitória contra o América de Rio Preto. Depois, fomos jogar em Penápolis e o resultado em Marília fez que a gente se classificasse sem precisar do jogo contra a Santacruzense. As coisas deram certo, se encaixaram. Nem sempre é o certo, mas houve o encaixe, me passaram um mapeamento daquilo que poderia melhorar e, junto com a comissão técnica, começamos a trabalhar, colocar a equipe ideal e tudo deu certo. Sou amigo do Amauri Knevitz hoje, o Luciano Deitos é meu auxiliar hoje, o Robert Yoshio (preparador físico) trabalhou comigo em outros clubes e hoje está no Boa e o Marcão (Marcos Romano, treinador de goleiros) também é um amigo. Então, o Noroeste foi uma situação onde as coisas encaixaram, deram certo e foi um grande trabalho.
LE: Qual momento você considera que foi o mais difícil naquela campanha?
ME: Teve dois momentos. No campo, acho que foi contra o Velo, em Rio Claro, na semifinal, quando dois jogadores nossos foram expulsos e ficamos uma boa parte do jogo (20 minutos) com dois a menos. A gente segurou o resultado, fazendo uma grande partida defensiva. O jogo já era difícil no 11 contra 11, o Velo fez um primeiro tempo muito forte, empurrado pela torcida, num campo horrível e uma arbitragem, digamos assim, radical nas decisões que tomou. Mas nós seguramos o 0 a 0, fizemos algumas substituições, seguramos defensivamente, com duas linhas de quatro. Fomos pra casa e conseguimos nossa classificação.
Outro momento muito, mas muito difícil mesmo, foi no jogo contra o Paulista de Jundiaí, o segundo da segunda fase. Estávamos concentrados em Campinas, quando chegou a notícia de que a Kalunga e a família Garcia estariam saindo do clube. Isso saiu à noite, fiquei sabendo pela manhã, quando reuni os atletas que, na maioria, pouco dormiram por conta disso. Por sorte, o jogo era a tarde. Na mesma hora, tive que chamar os atletas, fazer uma reunião. Muitas eram as preocupações deles diante de um jogo importante pra nós. Liguei para o Beto (Sousa, então gerente de futebol alvirrubro), ele falou que nada faltaria até o campeonato e todos os compromissos do Noroeste conosco estariam garantidos. Havia muita preocupação com o que seria do Noroeste dali pra frente, mas avisei daquilo pros jogadores. Aí, acabou tudo certo, fizemos uma grande partida, conseguimos a vitória e demos um passo importante com relação à classificação.
LE: Qual foi a importância de jogar frente ao torcedor, já que tanto nas quartas quanto nas semifinais, o Noroeste decidiu em casa e, além disso, contra o Audax na final, mais de 1.500 de torcedores viram o jogo?
ME: O futebol está muito competitivo e cada vez mais as equipes têm que estar preparadas. Elas têm que saber jogar em casa e fora de casa. Acho que o que faz a diferença é isso. E essa equipe do Noroeste, assim como outras minhas, foi campeã por causa disso. A gente sabia jogar com o regulamento, o que tinha que ser feito, tinha uma personalidade muito forte, com uma entrega, disposição e interesse na parte tática muito grande, jogava do individual para o coletivo e o individual aparecia naturalmente.
Particularmente, gosto de jogar em casa porque quando se joga em casa tem que propor o jogo, ter iniciativa. Eu tento e preparo minhas equipes para isso. Me preocupo com a parte estética, pois acredito que o jogar bem e o resultado andam lado a lado. E essa equipe do Noroeste teve o torcedor como fundamental. Nos momentos difíceis esteve conosco, acreditaram em nós. Teve 1.500 torcedores na final contra o Audax em São Paulo, o estádio estava todo em vermelho. Vendo o futebol hoje, muito competitivo, e ganhar duas vezes em uma final contra uma grande equipe como a do Audax foi um feito fantástico e todos nós fomos premiados.
LE: Quando ficou acertado que você não ficaria no Noroeste pra A2 de 2013 e seguiria pro União Barbarense? Não ficou receoso de que isso pudesse atrapalhar a campanha na Copinha?
ME: Quando o Beto me ligou, a princípio, nosso acordo seria somente para a Copa Paulista. Óbvio que eu era muito feliz em Bauru, tinha me adaptado à cidade, minha família adorava. Era um momento único na minha carreira também, pois tinha paz, alegria, felicidade e estava muito motivado por estar no Noroeste como técnico. O título nos deixou ainda mais feliz com o momento, foi tudo muito bom. Mas no meio desse caminho, infelizmente, a diretoria nos passou a notícia de que a Kalunga e a família Garcia não continuariam no Noroeste. Também sabíamos da grande dificuldade que iria ser e foi o Noroeste depois. Hoje ele está com pessoas muito sérias, tentando se reerguer e tenho certeza que as coisas vão acontecer muito bem para o clube. Foi forte nesta última Copa Paulista e vai ser muito forte no Paulista Série A3.
[Retomando…] Nesse meio do caminho, o União Barbarense me procurou. Ia disputar o Paulista Série A1, eu tive uma passagem pelo XV de Piracicaba onde as coisas não aconteceram e era a chance de mostrar novamente meu trabalho, meu valor. Conversei com a comissão técnica, sentei com pessoas que eu converso para ver se eu estava tomando a melhor decisão. Sabia das dificuldades que ia enfrentar no Barbarense. Também, nesse meio tempo, o Noroeste não me procurou para a renovação. Mas isso não atrapalhou. Os atletas ficaram sabendo pela mídia, conversei com eles e fomos profissionais. Todos ali, em sua maioria, teriam coisas boas como consequência da campanha com o título. Prova de tudo isso foi que as coisas aconteceram e o título veio merecidamente.
LE: Queria que você comentasse sobre a qualidade do elenco. Alguns jogadores seguiram pra jogar o Paulistão com você, incluindo o Walter, que acabou sendo o atleta de maior destaque daquele time.
ME: Uma das razões que fez com que a gente realizasse uma ótima campanha era a qualidade do nosso elenco. Um grupo simples, trabalhador, experiente e mesclado com os meninos pratas da casa. Teve um início com o Amauri, onde as coisas não aconteceram no meio do caminho. Acabamos pegando e, dentro das minhas convicções, o pessoal entendeu, aí acabou acontecendo. O grande destaque foi o Walter, que fez o Paulistão no Barbarense comigo e dali foi para o Corinthians, onde se encontra até hoje. É um belo goleiro, uma bela pessoa e tem todo o mérito de estar onde está.
Quem foi comigo também foi o Hélio, o Johnnattan chegou a jogar comigo depois. Quem se destacou na equipe e agora vem se destacando é o Giovanni, que fez uma grande campanha pelo Botafogo de Ribeirão, foi para o Fluminense e está emprestado ao América-MG agora. Mas era uma equipe muito forte, de qualidade. Foi muito fácil de lidar com eles. Até hoje, a gente se fala, relembra grandes momentos que tivemos nessa conquista maravilhosa.
LE: Qual a importância daquele título pra você, dá pra mensurar? Foi sua primeira Copa Paulista, mas você já tinha acessos com o XV no currículo e, depois daquilo, foi vice da A2 com Mirassol e campeão da Copa Paulista com o Linense…
ME: Foi muito importante. Eu vinha de uma grande campanha no XV de Piracicaba. Quando assumi a equipe, ela estava na A3. Fomos da A3 para a A2, da A2 para a A1. Estava no Paulista Série A1 quando fui demitido. Hoje vejo que não foi o certo, poderíamos ter ido até o final do trabalho e feito a coisa certa, mas isso já foi. Depois, fui para o Rio Branco de Americana. Na mesma Copa Paulista, na sétima rodada, fui dispensado por N fatores. Acredito que a demissão foi boa, por alguns fatores pessoais que não vou externar aqui. Mas foi boa também porque pude chegar ao Noroeste, e o clube meu deu a oportunidade de mostrar meu valor, meu trabalho e as coisas acabaram dando certo. Voltei de uma maneira positiva para o cenário.
Depois das demissões, houve a dúvida, o questionamento, mas o título com o Noroeste me colocou no mercado novamente. Aí, fui campeão da Copa Paulista com o Linense, acesso com o Mirassol para a A1. Fizemos um grande Paulistão em 2017 e vamos fazer um grande Paulistão com o Mirassol agora em 2018. Então, o título foi muito importante pra mim porque fez com que eu recuperasse a confiança, que continuasse alicerçando e mostrando meu valor no mercado do futebol, que é tão competitivo e de grandes profissionais.
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