LE Entrevista – Vanderlei Mazzuchini
O gestor do Vôlei Bauru bateu um papo com a Locomotiva antes da apresentação do elenco
Por Lucas Guanaes
Ala que fez parte da histórica equipe de basquete de Bauru em 2002, convocado frequentemente para a seleção brasileira e, por fim, gestor por 8 anos na Confederação Brasileira de Basquete (CBB). Vanderlei Mazzuchini Junior é um cara extremamente ligado ao basquete, mas agora é o gestor do Vôlei Bauru.
Com 44 anos, formado em educação física e especialista em gestão, voltou para a Cidade Sem Limites para criar sua única filha, mas o dever esportivo logo o alcançou novamente. Ainda, sonha em dar aula em uma universidade e, para isso, planeja fazer um mestrado num futuro breve.
Vanderlei esclareceu sua saída da CBB, a qual teve anos conturbados neste milênio, o papel no Vôlei Bauru, relação com a Associação Bauruense de Desportos Aquáticos (ABDA) e muito mais, confira!
Locomotiva Esportiva: Você, obviamente, é muito identificado com o basquete. Jogou por muito tempo em clubes, seleção, foi para a CBB e agora está na gestão do vôlei. Qual o motivo de ter escolhido essa modalidade?
Vanderlei Mazzuchini: A princípio Bauru é uma cidade que já estava na minha programação eu vir para cá. A tendência era vir para criar minha filha aqui. Uma cidade mais tranquila, uma cidade do interior, em que eu tenho muitos amigos. Tenho uma família aqui, que é a família Martha, realmente é como se fossem minha família. Isso já estava na minha programação de vida.
Cheguei aqui, estou com alguns contatos para fazer um mestrado em esportes. A princípio era isso. Me mudei no final de janeiro, o trabalho na CBB também não estava mais na programação. Era um trabalho muito desgastante e para mim já tinha dado. Os oito anos que estive lá foram um aprendizado gigante, com acertos e com erros.
O Reinaldo Mandaliti também é de uma família que eu tenho amizade, é um cara que a gente conversa e hoje eles são responsáveis pela equipe de vôlei. Não digo que eu sou do basquete ou sou do vôlei. No esporte, na parte de fora da quadra as necessidades são basicamente as mesmas. Tem a necessidade de uma comissão técnica, das atletas, etc. A gestão de uma equipe é muito parecida, praticamente não tem diferença alguma. Principalmente quando falamos de esporte coletivo e não de esporte individual.
Obviamente, tive uma experiência de oito anos na Confederação com essa parte de fora da quadra que eu me sinto apto a estar contribuindo. E aí eu contribuo com o esporte de Bauru. Bauru é uma cidade pequena mas que gosta de esporte. Então nós temos vôlei, basquete, futsal, acabei de conhecer o projeto do SESI de judô, fiquei quatro dias acompanhando o projeto do Zoppone, da ABDA…talvez eles sejam o melhor do Brasil. Talvez não só de natação, atletismo e pólo aquático, mas sim de qualquer modalidade. Eu nunca vi o que o Zoppone faz aqui. É uma situação ímpar, serve de modelo para a gente.
Nós conversamos com o Reinaldo e vamos sim desenvolver um projeto social, vamos sim desenvolver categorias de base. Espero que no próximo mês estejamos mostrando como vai funcionar. Com certeza o projeto do Zoppone, da ABDA, é um modelo para a gente. Bauru gosta de esporte e tem esporte. É lógico que sou identificado com o basquete por ter jogado basquete, ter atuado como dirigente, etc. Mas eu gosto de esporte. Então procuro contribuir com a experiência que eu tenho em algumas situações.
LE: Você teve uma passagem pela CBB em uma gestão muito criticada pela imprensa especializada. Inclusive, quando você foi anunciado no Vôlei Bauru, alguns veículos estranharam, já que havia acabado de sair de uma conturbada CBB. Você acha que a imagem que ficou na gestão da CBB pode atrapalhar seu trabalho aqui?
VM: Eu acho assim, temos que separar algumas situações, né? É óbvio que eu tenho muita responsabilidade sobre algumas situações que ocorreram no extra-quadra, até porque eu era o diretor técnico. Tivemos bons resultados e o final não foi como a gente esperava. Agora, isso serve de aprendizado. Não tenho dúvidas que esses oito anos me deram um aprendizado enorme. Tanto quando era atleta, como hoje, o que menos me dá medo na vida é colocar a cara para bater.
Tenho que entender que posso ser útil para algum projeto. Não estou fazendo isso para ganhar salário. Graças a Deus, hoje tenho uma situação em que eu posso ter tranquilidade para fazer o que acho que vou ser útil. Quem esteve próximo da gente, principalmente próximo a mim, na Confederação, em especial os técnicos e os atletas, quando falamos de seleção adulta, sabe que não faltou nada.
Mesmo com todas as dificuldades que a CBB tinha, financeiras e de gestão, para as seleções adultas, não faltou nada. Se você perguntar para as comissões técnicas, atletas, dentro das nossas dificuldades, foi dado todo o suporte para a equipe chegar e jogar em condição de igualdade contra as melhores seleções do mundo.
Óbvio que tiveram acertos e erros, mas eu fico com a minha consciência tranquila de que deixei o meu melhor. Obviamente que as seleções de base, principalmente nos últimos quatro anos, basicamente por falta de recurso, sofreram muito. Quando a gente fala de seleção brasileira, a gestão não é difícil, porque basicamente é o que todo mundo fala. Eu tenho que treinar mais e jogar mais
Só que pra eu treinar mais e ter esses jogos internacionais – e aí são jogos com qualidade para eu melhorar as seleções – eu preciso de recurso. Todos os atletas que passaram pela seleção e todo mundo da comissão técnica eu posso olhar no olho e dar a mão pelo que eu fiz e sempre fui muito honesto com todos. Eu nunca escondi nada de ninguém, nenhuma situação, sou o mais transparente com todos. Desde o roupeiro até o jogador da NBA.
LE: Qualquer confederação, independente do esporte que for, até por, entre outras coisas, ter verbas federais vinculadas, é mais engessada no modo de trabalho em comparação a uma instituição particular. Isso te dá um pouco mais de liberdade de atuação por estar em um clube de vôlei, com as verbas mais livres, um marketing atuante, etc.?
VM: O trabalho que eu estou desenvolvendo aqui, com certeza, é mais tranquilo que em uma confederação, sem dúvida. Isso aí só quem trabalhou sabe as dificuldades de trabalhar numa confederação. Não é simples, envolve muita coisa. Não que o trabalho em um clube não tenha responsabilidade e seja fácil, ele tem suas dificuldades, mas você tem mais liberdade para fazer tudo da forma que acredita.
LE: Assim como você disse, nos últimos anos a CBB focou nas seleções adultas e as equipes de base sofreram. Porém, o projeto social Corrente da Vida irá trabalhar justamente com as categorias de base. Isso vai ser algo novo para você, por não ter tido contato nestes anos?
VM: Com certeza vai ser uma coisa em que eu acredito muito hoje. Hoje não, acreditei sempre na minha vida. Eu acredito em projetos sociais e acredito em categorias de formação. Então, com certeza, isso é uma prioridade que não só o Vanderlei, mas que o Vôlei Bauru entende como uma necessidade e aí sim teremos um legado inteiro para a cidade.
LE: A sua função, de gestor, não existia na hierarquia do Vôlei Bauru. Antes da sua chegada, logo acima da comissão técnica já vinha a presidência e os patrocinadores. O que alguém na sua posição pode agregar ao projeto? E o que a pessoa Vanderlei pode trazer de novo?
VM: Basicamente é conseguir fazer o elo, já que fica muito distante a quadra dos dirigentes. É analisar quais as necessidades da quadra junto com o que pode ser feito com os patrocinadores e os dirigentes. Temos que tentar diminuir essa distância, basicamente é isso. Estar próximo da quadra, mais envolvido, para realmente entender as necessidades do time, dentro, lógico, de uma situação possível financeiramente.
LE: Você foi apresentado há quase um mês e meio. De lá para cá, o projeto Corrente da Vida apresentou alguma evolução?
VM: Sim, ele andou muito. Devemos anunciar isso logo, virão novidades, estamos aguardando para fazer um lançamento completo, uma coisa bem bacana. Acredito que vai ser uma coisa bem legal para Bauru. Como te falei, a ABDA foi um espelho, principalmente para mim, vamos caminhar nesse sentido. Deve iniciar no começo de agosto.
LE: O Bradesco, em Osasco, também serviu de inspiração neste sentido?
VM: É, o Bradesco faz uma coisa muito legal em Osasco. Projeto social é o que realmente vai dar sustentabilidade para uma equipe adulta, para manter o esporte com uma continuidade, o que é fundamental.
LE: Agora em relação ao time adulto. O que você já conseguiu notar no dia a dia de trabalho?
VM: Mesmo com todas as dificuldades, ainda estamos sem o patrocinador máster, acredito que conseguimos montar uma equipe competitiva. Agora depende do nosso trabalho, colocar essas meninas para treinar, temos o Campeonato Paulista já está chegando, temos a Superliga, várias responsabilidades. Acho que a equipe foi bem montada. A comissão técnica tem continuidade e isso é importante, começamos um trabalho com muita coisa do ano passado, temos muita expectativa desse ano ser melhor que ano passado.
LE: Com o anúncio de Paula Pequeno, o elenco ficou com 12 atletas, o que ainda é um número pequeno. Mais quantas atletas vão chegar ao clube?
Nota: A entrevista foi feita antes da chegada da oposta Helô, a 13ª atleta anunciada pelo time.
VM: Provavelmente ficaremos com 15 atletas neste primeiro momento. Aí vamos aguardar as situações financeiras e administrativas para aí ter uma ou outra contratação que seja especial em alguma posição.
LE: Nos últimos anos o time tentou Jaqueline, Fernanda Garay, contratou a Mari…
VM: Isso, vamos tentar ver. Aí tem que ter uma boa gestão, toda a questão administrativa, para a gente poder entender onde podemos acertar isso. Mas com as 15 atletas já teremos uma equipe competitiva.
LE: Quanto ao patrocinado máster, como está a situação? Já existe algo em vista?
VM: Estamos conversando. Isso fica mais na parte do Adriano e do Reinaldo, mas estou acompanhando o dia a dia, conversando. Temos muita expectativa de conseguir. Sabemos que é um ano muito difícil, o Brasil passa por um momento muito delicado e aí as empresas vêm sofrendo muito. Mas a gente acredita no potencial do esporte, nas coisas que fazemos, para que a gente consiga esse patrocinador máster e dar uma tranquilidade para a parte administrativa e financeira caminhar junto da parte técnica.
LE: A renovação da Brenda depende exclusivamente de um novo patrocínio?
VM: Também. Não necessariamente, mas hoje a equipe precisa sim. Para termos uma gestão tranquila, precisamos deste parceiro.
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