VEIAS ABERTAS DO FUTEBOL LATINO – 2ª TEMPORADA (PARTE 2)
Os tentáculos do narcotráfico no futebol mexicano
Por Fabio Toledo
A colônia de La Martinica fica em uma região de classe média no meio da cidade de León, nas proximidades de um parque arborizado, museu, centros de eventos e exposições, o ginásio poliesportivo Domo de La Feria e o Estádio León, onde joga a equipe da cidade, o Club León, fundado em 1943 e sete vezes campeão mexicano. Foi ali, em La Martinica, no ano de 2014, que um dos maiores narcotraficantes do país foi capturado.
A operação de inteligência durou seis meses até encontrar o paradeiro de Tirso Martínez Sánchez, conhecido, entre outros apelidos, por “El Doctor” e – naquele que melhor se encaixa em nosso propósito – “El Futbolista”. Ele era procurado pelo FBI, o qual oferecia uma recompensa de 5 milhões de dólares por informações sobre sua localização. Foram rastreadas movimentações financeiras, ligações telefônicas e utilizados agentes federais infiltrados.
Inicialmente, não acreditaram quando descobriram que o homem que procuravam vivia em um conjunto residencial de classe média, longe de suntuosas mansões e mais magro com relação à sua última aparição, em uma festa em Irapuato, onde foi fotografado. Na manhã do dia 11 de fevereiro, interceptaram Tirso na entrada do residencial, informando de sua prisão. Ele se fez de desentendido, apresentando um documento falso onde se apresentava como Luis Ángel Aguilar. O problema foi que, dentro de sua carteira, também havia uma cópia da CURP (documento de registro mexicano) com o nome de Tirso Martínez Sánchez. Não restou nada além dele confirmar quem de fato era.
Na ficha de Tirso, destacava o fato dele ter chefiado uma organização responsável por enviar aproximadamente 76 toneladas de cocaína da Colômbia para os Estados Unidos entre 2000 e 2003. Ele também tinha vínculo com o Cartel de Juárez (por conta de relações com Amado Carillo, conhecido como “El Señor de los Cielos”, chefão do grupo até ser assassinado, em 1997) e com Marcos Arturo Beltrán-Leyva, “El Jefe de Jefes”, da organização Beltrán-Leyva, comandada por ele e mais três irmãos (Carlos, Alfredo e Héctor), morto em 2009 durante tiroteio entre membros do cartel e fuzileiros navais mexicanos.
Além disso, de acordo com o governo dos Estados Unidos, Tirso era responsável por organizar um esquema de lavagem de dinheiro proveniente do narcotráfico. É aí que entra o futebol.
“El Futbolista”
Para um narcotraficante ter esse apelido, das duas uma: ou ele é um ex-jogador de futebol, ou está envolvido no meio futebolístico com interesses. Acertou quem escolheu a segunda opção. Durante o período em que comandou o transporte ilegal de 76 toneladas de cocaína da Colômbia para os Estados Unidos, Tirso seria dono das equipes do Querétaro e Irapuato, que receberam 10 milhões de dólares sem comprovar a origem dessa verba. Além das duas agremiações, Tirso teria ligações também com outros dois clubes, o Cajeteros de Celaya e o Tlaxcala.
Apesar de a prisão de “El Futbolista” ter sido realizada em 2014, ele estava na lista de procurados pelo FBI desde 2004. Neste ano, inclusive, foram veiculados na imprensa mexicana informações sobre possíveis narcotraficantes infiltrados nas equipes de Querétaro e Irapuato. Devido a essas denúncias e à obscuridade do comando dos dois clubes, Alberto de la Torre, então presidente da Federação Mexicana de Futebol (Femexfut), e Justino Compeán, então tesoureiro da federação, precisaram assumir o controle dessas franquias.

Querétaro | Foto: Femexfut
No mesmo ano, Irapuato e Querétaro saíram da primeira divisão, com a alegação da FMF que fazia parte do processo de redução de clubes na competição, de 20 para 18. Contudo, da parte do Querétaro, os irmãos Alejandro e Jorge Vázquez Mellado, que buscaram comprar o clube naquele momento, asseguraram ter havido muita pressão da federação para o acerto não ser confirmado, excluindo a equipe do cenário nacional.
Uma outra acusação feita sobre Tirso Martínez Sánchez foi com relação ao envolvimento dele na transação de atletas colombianos. Ele foi apontado por uma testemunha nos EUA como cabeça de uma rede de narcos que lavava dinheiro transferindo jogadores colombianos pelo mundo, associado com a Promotora Internacional Fut Soccer, de Guillermo Lara, presente com seus atletas também no futebol mexicano, em clubes como Jaguares Chiapas, Veracruz, entre outros. Mas este é assunto para outro capítulo do especial.

Tirso foi extraditado para os EUA | Foto: Divulgação
Assim como o Irapuato e o Querétaro, outras equipes do futebol mexicano se encontram à deriva para a chegada de um “benfeitor” do narcotráfico e este investir (e ao mesmo tempo lavar dinheiro) no clube. Mas por que isso acontece? É difícil de achar apenas uma resposta, mas trazemos nossa visão na próxima parte.
México em música
O estado de Sinaloa está na região noroeste do país e possui a agricultura e a pesca como fontes de renda. Neste ambiente rural, se desenvolveu o ritmo Banda Sinaloense, também conhecido como Tambora Sinaloense. O gênero surgiu a partir das fanfarras que tocavam em festas e procissões religiosas, com destaque para a utilização de instrumentos de sopro, como trompete, clarinete e trombone, e percussão, casos da caixa e do bumbo.
Em sua origem, a Banda Sinaloense se assemelha a bandas de sopro alemãs e francesas. Já em meados do século XX, o ritmo foi se popularizando no México e no sul dos Estados Unidos. Além disso, aliou-se a outros gêneros, apresentando um estilo híbrido conhecido como “grupero”. O grupo de maior tradição em Banda Sinaloense é a Banda El Recodo, completando 80 anos de existência em 2018.
Deixe seu comentário