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Futebol

Veias abertas

2015/10/23 0 0

VEIAS ABERTAS DO FUTEBOL LATINO – 1ª TEMPORADA – PT.5

Futebol em pó – sucesso colombiano por conta do narcotráfico ou apesar dele?

Por Fabio Toledo

VEJA TAMBÉM – Futebol em pó – parte 4

O futebol deixado de lado

Ainda na década de 80, muitos problemas aconteciam durante a relação entre os cartéis e os clubes de futebol. A quantidade de resultados obscuros era enorme. O mais sujo dos campeonatos foi o de 1988, dentro e fora de campo. Em 20 de outubro daquele ano, o Quindío vencia o Santa Fe por 1 a 0, faltando menos de 15 minutos para o final, mas a torcida de Los Cuyabros estava furiosa com o árbitro Luís Fernando Gil, que deixou de marcar um pênalti para o Quindío e fez de tudo para Los Cardenales empatarem, chegando até mesmo a acrescer 13 minutos após o término do tempo regulamentar. Sergio Angulo fez o 1 a 1 e a torcida invadiu o campo para bater no árbitro e nos jogadores do Santa Fe.

Confira um vídeo do ocorrido:

Em outra ocasião, o Nacional derrotou o Cúcuta por 2 a 1 com um pênalti muito discutível. E mais um juiz foi agredido, agora pela torcida cucuteña. Enquanto os placares escandalosos ocorriam, a División Mayor del Fútbol Colombiano (Dimayor), responsável por cuidar das competições nacionais, fez vistas grossas para a situação, e o futebol sofreu nas mãos do narcotráfico.

Na data de 1° de novembro, dois dias antes do início do octagonal final do Campeonato Colombiano, o árbitro Armando Perez foi sequestrado. Após 20 horas em cárcere, foi libertado, em troca de divulgar uma mensagem: “Disseram-me, em nome dos Millonarios, Pereira, Quindío, Junior e Nacional, para informar ao público que o árbitro que não fazer o que for justo será apagado”.

Ou seja, prejudicou meu time, tá morto. Isso para impedir que os árbitros ajudassem o Santa Fe, como foi diante do Quindío, ou o América, que supostamente comprava juízes. Resultado: quatro dos melhores árbitros do país pararam de apitar, enquanto não tivessem garantias de segurança por parte dos organizadores da competição.

No final das contas, com muita controvérsia, Millos campeões (Foto: Reprodução/soachailustrada.com)

O campeão de 1988 foi o Millonarios, mas muita discussão envolveu o triunfo de Los Azules. Contra o América, um gol mal anulado deu a vitória por 2 a 1 para a equipe de Bogotá. No clássico contra o Santa Fe, Freddy Rincón marcou para Los Cardenales, porém o árbitro contribuiu confirmando um gol de Iguarán, impedido, e marcando um pênalti, quando Darío Hernandez foi derrubado fora da área.

Foto: Reprodução/noticiasmillos.net

Diante do Cúcuta, o Millos fez 5 a 0, com mais arbitragem “amiga”. O presidente do Cúcuta ameaçou tirar seus jogadores do campo, mas prevendo uma punição, bolou um plano ainda menos nobre: os atletas simularam lesões e, aos 14 minutos do segundo tempo, a partida se encerrou por falta de jogadores. Para fechar da pior maneira, após a festa do título do Millonarios, os jornais El Espectador e El Tiempo, apesar do risco de sofrer alguma retaliação, como era comum para os jornalistas da época, divulgaram reportagens que denunciavam a relação entre o clube e o narcotraficante Gonzalo Rodríguez Gacha (foto).

Foto: Divulgação/pabloescobargaviria.info

Se a situação na década de 80 já era hostil, após 2 de dezembro de 1993, com o assassinato de Pablo Escobar pela Unidade de Operações Especiais da Policia Nacional da Colômbia (foto), o caos se ampliou. Sem o grande chefão do Cartel de Medellín, a disputa pelo poder tomou conta da Colômbia, e mais mortes de inocentes aconteceram. Isso interferiu diretamente na seleção nacional e em toda a geração do futebol colombiano. O dinheiro dos narcos começou a sumir dos clubes, porém a pressão e a violência permaneceu. Da mesma forma, sobrou para os atletas.

Um dos casos mais famosos foi o do sequestro do filho do zagueiro da seleção, “Chonto” Herrera. Com uma pressão externa absurda, a seleção cafetera chegou aos Estados Unidos sem a mínima condição psicológica para fazer uma grande competição. A estreia, contra a Romênia no Rose Bowl, não poderia ter sido pior. Derrota por 3 a 1, mesmo com mais chances criadas pelos criollos. Após o revés, o irmão de “Chonto” foi assassinado. E ainda teve mais: Francisco Maturana foi ameaçado de morte, caso escalasse “Barrabás” Gómez nas próximas partidas. Isso motivou o meio-campista a encerrar sua carreira naquele exato momento.

Se por amor já seria difícil fazer história em um mundial, por terror complicaria ainda mais as coisas. No Rose Bowl, mais um capítulo triste do futebol colombiano teve seu início. Contra os anfitriões, os Estados Unidos, os cafeteros pressionaram como sempre, com sua formação ousada com praticamente quatro atacantes, mas começaram a se despedir do Mundial aos 13 minutos, em gol contra de Andrés Escobar, quando este tentava cortar um cruzamento. Stewart fez 2 a 0 (Lalas, em posição legal, havia marcado antes, porém a arbitragem anulou o tento). Valencia descontou ao 45’ da etapa final, quando não havia tempo para mais nada.

Confira os melhores momentos de EUA 2 x 1 Colômbia:

A Colômbia ainda enfrentou a Suíça com chances de classificação. Mais calma, fizeram 2 a 0 na seleção europeia. Contudo, a Romênia fez 1 a 0 nos Estados Unidos e se classificou. Assim, os colombianos voltaram para casa. Para um desses jogadores, seria melhor ter ficado na América do Norte. Isso porque em 2 de julho, o que poderia ter sido um dia de preparação para o jogo contra o Brasil, no dia 4, foi o qual Andrés Escobar acabou assassinado.

Andrés Escobar, vítima de um período caótico da sociedade colombiana (Foto: Reprodução/ebc.com.br)

Conhecido por sua serenidade dentro de campo e bom controle de bola, era chamado de caballero del fútbol. Até hoje, é o quarto jogador com mais partidas com a camisa do Atlético Nacional, pelo qual foi campeão da Libertadores de 1989, muito adorado pelos fãs de futebol no país. Dez dias depois de seu retorno dos Estados Unidos, Escobar estava no estacionamento da discoteca El Indio, nas imediações de Medellín, juntamente com sua noiva, quando foi agredido verbalmente por dois homens, os irmãos Pedro David e Juan Santiago Gallón Henao, ligados ao paramilitarismo e ao narcotráfico. Houve discussão, até Humberto Muñoz Castro, motorista dos irmãos, sacar seu revólver e disparar. O tiro acertou a cabeça de Escobar, que morreu antes de chegar ao hospital.

Homenagem póstuma a Andrés Escobar em partida do Campeonato Colombiano
(Foto: Reprodução/berkeley.edu)

O episódio foi marcante, tanto para o futebol, como para a sociedade colombiana, que não aguentava mais a insegurança proporcionada pelo narcotráfico e o paramilitarismo. Da parte do futebol, uma longa limpeza na casa teve início logo em 1995.

Confira outras histórias desta época do futebol colombiano clicando aqui.

VEJA TAMBÉM – Futebol em pó – parte 6

Sonidos de Colombia

Nas planícies orientais do território colombiano, um ritmo ganha destaque. O Joropo também é um dos principais ritmos da vizinha, Venezuela, a qual divide semelhanças na colonização. O estilo musical possui influências de danças africanas e europeias, com a utilização de harpa, capachos (maracas pequenas), cuatro (instrumento de quatro cordas) e presença de sapateado de origem flamenca. Confira abaixo a música “Quitapesares”, interpretada pelo grupo Cimarron:

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Fabio Toledo
Crítico do futebol moderno, aventura-se por outros esportes, como basquete, vôlei e futebol americano, mas não deixa de lado a boa e velha redonda.

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